MACHISMO OU HERANÇA DA
SOBREVIVÊNCIA?
ADELAIDE ABREU DOS SANTOS
I - RETROSPECTIVA
HISTÓRICA
Será que o machismo existe da maneira que é encarado no nosso discurso de hoje?
Vamos fazer uma
retrospectiva histórica, pois é para isso que se estuda. Estuda-se para ter
bagagem, para refletir, comparar e deduzir, consequentemente teremos as
conclusões mais compatíveis à realidade e baseados nelas é que teremos o
conhecimento, com ele desenvolveremos nossa capacidade crítica para que
saibamos fazer comparações. Isto posto vamos ao tema.
Retrocedendo na
história da humanidade, vamos para a Pré-História, ou como se diz normalmente a
Idade das Cavernas, Qual era o comportamento? Pelas charges e brincadeiras,
sabe-se que a mulher era subordinada ao homem; talvez porque apenas ele sabia
enfrentar as adversidades e caçar para a sua sobrevivência; servia-o em todos
os sentidos, diria que nesta época a mulher é que era servida, posto que o
homem saia para caçar e trazia a caça para sua caverna, onde a esquartejava,
comia e então após se locupletar deixava as sobras, que eram devoradas pela
mulher.
Nesta época não
havia conceito de casa, de varrer, de espanar, de estocar, de decorar, de nada,
pois o que se caçava se consumia e não se estocava, mesmo porque apodrecia,
então os restos eram deixados na floresta para os predadores. Portanto a mulher
era meramente o objeto de satisfação sexual fisiológica, na verdade era um ato
físico, não estando envolvido, pela aura romântica, que lhe foi atribuída
séculos depois, de que o sexo seria algo sublime, que só se devia fazer por
amor. Na época de que falamos o sexo era meramente uma liberação fisiológica
como urinar e evacuar, além evidentemente, sem que tivessem noção, o
perpetuador da espécie. Eram movidos por instintos inexplicáveis para eles e
assim se reproduziam, sem nem ao menos terem consciência dessa necessidade.
Posteriormente o
homem foi evoluindo e de nômade passou a se radicar, foi quando começou a
amanhar a terra, pois necessitava permanecer no local para acompanhar todo o
processo do cultivo e colheita e então começou a germinar um sentimento de
pertencimento. O cultivo demanda muita necessidade de trabalho físico: o
preparo da terra, a plantação, a colheita e a armazenagem para consumo, os
planos foram se modificando à medida em que surgiam as necessidades, o homem
passou a se radicar num espaço determinado que lhe propiciasse condições de
cultivo e abrigo das intempéries.
O abrigo
inicialmente pode ter sido uma caverna perto da terra fértil, mas quando esse
abrigo natural não era encontrado, abrigavam-se sob moitas, ou árvores
frondosas e aos poucos de acordo com as circunstâncias toscamente começou a
improvisar seu abrigo com galhos, depois pondo sobre eles lama, para evitar o
sol e a chuva, evoluiu para as pedras, claro que isso só ocorreu em território
rochoso, empilhando as pedras para proteger-se do vento, da chuva e do sol e
também da neve, onde esta caia...
Agora usava os
galhos para fazer a cobertura de seu abrigo, as pedras serviam também para a
fogueira, que servia para aquecer seu abrigo, evidente que nesta época já havia
descoberto como fazer fogo e também já começava a cozinhar os alimentos,
percebeu que a fumaça incomodava, fez um buraco para dissipá-la, mas como ela
subia para o teto e enfumaçava o ambiente, resolveu fazer um buraco no teto
sobre a pedra do fogo, lógico que quando chovia a chuva apagava o fogo, houve
necessidade de melhorar esse duto e evoluiu para a chaminé, que encaminha a
fumaça para a área externa sem que água ou vento interfiram no interior da
casa, isto depois de muitas tentativas e experimentos.
O tempo continua
passando e o homem deu--se conta de que a moradia era escura, e não era
arejada, o que hoje chamaríamos de insalubre. Foram matutando e fazendo
experiências e chegaram à concepção das janelas, das portas e eis que surgem as
casas! Não como as conhecemos hoje, mas um protótipo tosco do futuro.
III - mudança sutil no papel da mulher
A mulher começa
também a ser objeto de mudança, cresce sua importância como reprodutora, pois
havia necessidade de braços para trabalhar no cultivo, na colheita, na
estocagem, na seleção e na distribuição. Vai-se evoluindo cada vez mais, novas
exigências surgem. Descobre-se que se os alimentos são cozinhados, duram mais,
as indisposições estomacais não são mais tão freqüentes, os alimentos ficam,
mais apetitosos e fáceis de engolir, então a mulher de simples reprodutora
passa a zeladora dos filhos, dos alimentos e da casa. A casa vai adquirindo
novos contornos e exigências de acordo com a criatividade feminina e ela a vai
enfeitando, vai ampliando-a e cria divisórias, consoante sua imaginação, cria
atribuições para seus novos espaços e para o conforto dos moradores e então
além de reprodutora, se torna cozinheira, costureira, arrumadeira e anfitriã. E
assim a mulher vai levando a vida especializando-se cada vez mais, nas artes
culinárias, nas artes manuais e no gerenciamento da casa.
Os hieróglifos
transformam-se em letras e o homem sai da oralidade pura e dos desenhos e
começa a procurar registrar as suas conquistas de maneira bem explícita. Começa-se
o registro histórico dos fatos, através dos espiritualistas, pois se dedicavam
ao estudo da ciência. Para que não paire dúvida sobre os fatos narrados; não se
levava em conta a vaidade e paixão, que sempre nos levam a exagerar um pouco ou
a florear o que vivemos. Faziam seus registros de maneira isenta. Até então a
história dos feitos era oral, através dos anciãos, que revelavam às crianças os
feitos de seus antepassados.
Antigos pajés, ou
sacerdotes começam a procurar registrar os dogmas em papiros e surge então a
sistematização do conhecimento. Surgem os registros não só de normas, como de
descobertas de novas terras, ou de inovações para simplificar a vida diária,
que posteriormente seriam denominadas de tecnologia científica.
E a mulher que até então
era somente reprodutora, passa a ouvinte dos sonhos mirabolantes do marido e de
passiva, a incentivadora e até conselheira, em alguns casos os dois crescem
juntos, mas mesmo assim é mantido o “satus”
de coadjuvante, a prioridade continua a ser de gerar, cuidar, vestir, alimentar
e orientar nos quesitos de convivência e os filhos homens para atividades
externas e as mulheres para as prendas do lar. Afinal os filhos são a riqueza
da família, pois são eles que vão juntar forças às forças do pai para garantir
o sustento da família. E a filha se constitui em moeda de troca, pois a
reprodução é necessária e as famílias necessitam se multiplicar.
Surgem guerras e
muitos homens são dizimados, terras ficam acéfalas e onde não havia filhos
homens com idade de assumir, recai sobre a mulher se deixar ser espoliada ou
assumir o mando. E é assim que surgem mulheres de fibra, que pegam à unha os
problemas para resolvê-los em prol de seus filhos.
Os séculos vão
passando, o mundo vai-se povoando mais e mais, o isolamento vai desaparecendo,
surgem as vilas, em seguida as cidades e as megalópoles. O homem fica sequioso
de poder, cego de ambição, cada vez mais por dominar e se distinguir e vai
desbravando novos espaços. Cria-se o conceito de hombridade e para ser homem
não precisa mais ser honesto e de palavra, mas ter dinheiro, poder e manipular
os eventos, a seu bel prazer, esquecendo valores e respeito. A hombridade é
posta à prova, o desejo de ser o maior o cega e ele supera tudo e todos e
surgem os feudos, os países, os descobrimentos através dos oceanos e o homem
cada vez procura mais e mais o seu poder, que é a sua força. E a mulher onde é
que está? Agora ela é a castelã, ou a cortesã, e novas atribuições lhe vão
sendo dadas. Antes sempre resguardada, quase aprisionada, não devia ser vista
por outro olhos de homem a não ser seu próprio marido, pois o medo à
cobiça e ao rapto da mulher os faziam
temer a exposição da mulher, agora é exposta passa a recepcionar e presidir a
mesa com seu marido, recebendo os aliados e promovendo mais alianças, que os
beneficiem.
VI - conhecimento
O estudo agora faz
parte da vida masculina, pois para se constituir num líder e governar, o
indivíduo tem que conhecer a arte do bem falar, ou oratória, do envolvimento de
pares, os da mesma classe social, ou seja os do poder, para fortalecer-se e
assim contar com o apoio dos mesmos e dar-lhes seu apoio, onde lhes conviver, inicia-se a
cadeia de conveniências, urdem-se as tramas de estratégias políticas e táticas,
para se manter no ápice e a mulher se aprimora na arte de bem receber, da
intriga, da criação de alianças, através das esposas e mães dos poderosos. Seu
papel mudou, mas o estudo ainda não faz parte de seu universo, pois o local
onde se ensina são os monastérios, local só de homens, a entrada da mulher é
proibida. Afinal os estudiosos eram monges celibatários e viviam no isolamento,
meramente dedicados ao estudo da ciência, não deveriam ser distraídos pela
mulher, que era a emissária de satanás para fazê-los cair em tentação.
Os bem nascidos iam
para os internatos, aprender a arte da oratória, da argumentação, da
estratégia, das artimanhas necessárias a se alcançar o objetivo almejado, além
dos maneirismos necessários à posição que herdariam. Algumas mulheres tiveram o
privilégio de terem pais excepcionais e visionários, que as introduziram na
leitura e nos conhecimentos da matemática, mas eram muito poucas e normalmente
para se casarem tinham que omitir esse conhecimento, pois poderia constituir-se
em empecilho para a aliança, já que o conhecimento era uma arte meramente
masculina, desnecessária às mulheres, que se constituiriam em concorrentes, pois
pensariam como um homem e agiriam como tal. Esse era o temor existente na
época, a concorrência feminina. às mulheres competia ficarem em casa e apenas
se esmerar na arte de receber, das boas maneiras, de fazer articulações, de tecer
intrigas e de orientar os serviços da casa.
VII - novos pensares e olhares
O tempo transcorreu
implacável e acabam-se os feudos, os palácios, surge a burguesia, a
industrialização e novas guerras, estas muito mais agressivas e destruidoras,
que as de antanho, pois a indústria bélica, vinha num crescendo de inovação
tecnológica para infligir perdas mais significativas nos exércitos oponentes,
só que a destruição não é unilateral e ambos os lados são dizimados.
Como consequência a
mão de obra fica escassa, muitas famílias ficam acéfalas, pois os pais foram
mortos na guerra e surgem problemas inimagináveis até então e que necessitam de
solução imediata, como o fato das lavras estarem destruídas pela passagem dos
equipamentos bélicos e faltar alimento para a população dos países onde passam
as lagartas dos carros de guerra.
Todos os problemas
oriundos dos efeitos da guerra subverteram toda a ordem anterior e o mundo se
abre para a mulher, pois a escassez de mão de obra pressiona o mercado para
aceitar a força motriz da mulher e a mulher sai do lar para que possa sustentar
sua prole, sua família e ela passam a ajudar na produção das indústrias.
Esta nova realidade
provoca novamente mudanças comportamentais, agora as mulheres precisam aprender
novas tarefas para poderem cumprir com o esperado delas nas indústrias, em consequência
de tantas inovações nas exigências da sociedade produtiva, abre-se um novo
horizonte para as mulheres, motivado única e exclusivamente pelos interesses
mercantilistas e ela é aceite nas escolas, em muitos países como o Brasil só
garantirão o acesso à escola em 1930, até então a mulher era descartada como
ser pensante e digno de desenvolvimento intelectual, mas é bom que se deixe
claro que isso só ocorre nas séries iniciais, pois seria suficiente que
aprendessem a ler e a ter os rudimentos da matemática. O Brasil ainda não tem
mercado para as mulheres.
VIIi - novos tempos
Hoje após tantas
reviravoltas as mulheres se equiparam aos homens, compete em pé de igualdade em
muitas áreas, apesar das discriminações salariais, mas perde muito por perder
tempo discutindo conceitos, pois é mais importante ser do que impor, a melhor
resposta está nas estatísticas, que provam que hoje há um número maior de
mulheres do eu de homens com grau de escolaridade mais avançado, a quantidade
de aprovações conteudísticas prova que o índice de mulheres em aprovações é
superior ao dos homens e também quanto ao nível de escolaridade. As mulheres
perdem tempo demais com discussões desnecessárias, pois os números provam que
elas são melhor preparadas, para quê se sentir inferior e reclamar igualdade se
já a conquistamos? Que igualdade? Salarial? De condições de trabalho? Para quê
bater boca, se é só uma questão de agir e através das atitudes provar a
competência?! O bate boca só provoca a discriminação, pois nos torna
inferiores, mesquinhas e encrenqueiras. As que têm competência mesmo, não
perdem tempo rotulando os homens de machistas, apenas agem e os atropelam com
seus resultados e conquistas, quer seja de salário, quer seja de vantagens. Seu
verdadeiro valor está no resultado de seus feitos e se tornam imprescindíveis,
mas infelizmente ainda temos um grupo elevado que quer rótulos sem merecimento,
pois ainda tem mentalidade tacanha e quer discutir direitos, mas os direitos
são conquistados através de ações não de discussões!
Viva a mulher
superior, que não grita, não esbraveja, não bate o pé, apenas age com discrição
e competência, conquistando resultados invejáveis e o zênite. Essa mulher
superou a sensação de inferioridade e provou para si mesma que apesar da sua
origem inicial de sobrevivente, e, portanto subserviente, assume o seu papel
hodierno na sociedade, guiando-o com seu tirocínio e tendo as rédeas de seu
mundo nas mãos. Ela escreve o seu próprio futuro!