Get me outta here!

quarta-feira, 26 de abril de 2017

LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO - CONTO ERÓTICO

Conto Erótico

LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

- Às suas ordens.
- Que-quem é?
- Às suas ordens.
- Acho que apertei o botão errado. Ainda não me acostumei com o painel deste novo sistema. Como é que eu faço par conseguir linha direta?
- Linha direta: comprima o botão vermelho no canto direito inferior do painel. Aguarde. Se der sinal de linha, comprima o botão marrom, depois o vermelho novamente.
Repita a operação até conseguir a linha.
- Obrigado, senhorita...
- De nada. Desligo.
- Escute!
- Às suas ordens.
- Olhe. Por favor, não pense que eu estou sendo indiscreto, mas é que não reconheci sua voz. Você é nova no escritório? Alô?
- Às suas ordens.
- Eu só queria esta informação...
- Informação: Comprima o "zero' no painel. Aguarde. Quando ouvir o sinal eletrônico, declare a informação desejada. Fale pausadamente.
- Não. Não. Eu só queria saber... Em primeiro lugar, o que é que você está fazendo aqui a esta hora? Todo mundo já foi para casa. Já sei, é seu primeiro dia, você ainda está desambientada. Mas não precisa exagerar. Ninguém me disse que iam contratar uma nova telefonista. Aliás, me disseram que com esse novo sistema, não precisa telefonista. Você não responde?
- Às sua ordens.
- Só me diga seu nome. Olhe, não sei o que lhe disseram a meu respeito, mas eu não sou um patrão duro, não. Só fico até esta hora no escritório porque, francamente, este é o lugar onde me sinto melhor. Minha mulher nem fala mais comigo. Me sinto muito melhor aqui, na minha mesa, na minha poltrona giratória, as minhas coisas, agora este novo telefone... entendeu? Não sei porque estou contando tudo isto para você. Ah, é para você não ter medo de conversar comigo. Sou absolutamente inofensivo. As funcionárias deste escritório, para mim, fazem parte da mobília, entende? Jamais faltei com respeito com nenhuma delas. Aliás, jamais faltei com respeito com mulher nenhuma, ouviu? Você não tem nada para me dizer?
- Não há mensagens.
- O quê?
- Às suas ordens.
- Mas eu sou um animal. Você é uma gravação! Agora entendi. E eu aqui falando sozinho...Mas sabe que você tem uma voz linda?
- Às suas ordens.
- Quero fazer amor com você. Agora. aqui. em cima da mesa. Com a sua cabeça atirada para trás, por cima do calendário eletrônico. Com o jogo de canetas de acrílico espetando as suas costas. E você rindo, selvagemente, de prazer e de dor. Depois rolaremos pelo carpete como dois loucos. Como duas feras. Derrubaremos a mesa do café.
- Café: comprima o botão rosa.
- Ahn. Diz de novo. Comprima o botão rosa. Diz. Café.
- Café: comprima o botão rosa.
- Meu amor, minha paixão. Café.
- Café: comprima o botão rosa.
- Quero passar o resto da minha vida ouvindo a sua voz e comprimindo seu botão rosa. Nunca mais preciso sair do escritório. Só nós dois. Quero fazer tudo com você. Tudo!
- Você deixa?
- Às suas ordens.

FIN

sábado, 22 de abril de 2017

DESCONHECIDO - A AMIZADE É UM AMOR QUE NUNCA MORRE

A amizade é um amor que nunca morre

DESCONHECIDO
A amizade é uma virtude que muitos sabem que existe, alguns descobrem, mas poucos reconhecem a amizade quando é sincera o esquecimento é impossível confiança, tal como a arte, não deriva de termos resposta para tudo, mas, de estarmos abertos a todas as perguntas.
A dor alimenta a coragem. Você não pode ser corajoso se só aconteceram coisas maravilhosas com você. A esperança é um empréstimo pedido à felicidade.
A felicidade não é um prêmio, e sim uma conseqüência, a solidão não é um castigo, e sim um resultado. A felicidade não está no fim da jornada, e sim em cada curva do caminho que percorremos para encontrá-la. A gente tropeça sempre nas pedras pequenas, porque as grandes a gente logo enxerga.
A glória da amizade não é a mão estendida, nem o sorriso carinhoso, nem mesmo a delícia da companhia. É a inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e confia em você.
A infelicidade tem isto de bom: faz-nos conhecer os verdadeiros amigos. A inteligência é o farol que nos guia, mas é a vontade que nos faz caminhar. A maior fraqueza de uma pessoa é trocar aquilo que ela mais deseja na vida, por aquilo que ele deseja no momento.
A persistência é o caminho do êxito. A pior solidão é aquela que se sente na companhia de outros. A SOLIDÃO É UMA GOTA NO OCEANO QUE SÓ OLHA PARA SI MESMA... UMA GOTA QUE NÃO SABE QUE É OCEANO...
Amigos são a outra parte do oceano que a gota procura... A tua única obrigação durante toda a tua existência é seres verdadeiro para contigo próprio.
A verdadeira amizade deixa marcas positivas que o tempo jamais poderá apagar. A verdadeira amizade é aquela que não pede nada em troca, a não ser a própria amiga. A verdadeira generosidade é fazer alguma coisa de bom por alguém que nunca vai descobrir. A verdadeira liberdade é poder tudo sobre si. Algumas pessoas acham-se cultas porque comparam sua ignorância com as dos outros.
Amigo de verdade é aquele que transforma um pequeno momento em um grande instante. Amigo é a luz que não deixa a vida escurecer. Amigo é aquele que conhece todos os seus segredos e mesmo assim gosta de você! Amigo é aquele que nos faz sentir melhor e sobre tudo nos faz sentir amados... Amigo é aquele que, a cada vez, nos faz entrever a meta e que percorre conosco um trecho do caminho.
Amigos são como flores cada um tem o seu encanto por isso cultive-os. Amizade é como música: duas cordas afinadas no mesmo tom, vibram juntas... Amizade, palavra que designa vários sentimentos, que não pode ser trocada por meras coisas materiais... Deve ser guardada e conservada no coração!!!
As pessoas entram em nossas vidas por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem. Celebrar a vida é somar amigos, experiências e conquistas, dando-lhes sempre algum significado.
Diante de um obstáculo não cruzes os braços, pois o maior homem do mundo morreu de braços abertos. Elogie os amigos em público, critique em particular. Errar é humano, perdoar é divino. Evitar a felicidade com medo que ela acabe; é o melhor meio de ser infeliz. Faça amizade com a bondade das pessoas, nunca com seus bens!
Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente.

FIM

DU'ART - BELEZA INIGUALÁVEL

BELEZA INIGUALÁVEL

Du’Art 09/04/2015

Caminhando pelo jardim da imaginação,
Deparei-me com uma surpresa agradável,
Encontrando com algo de causar emoção,
Estando diante de uma beleza inigualável.

Ao ver as flores sem vento movimentar,
Imaginei que seria fruto da minha mente,
Mas realmente algo veio a me encantar,
Naquele instante percebi algo diferente.

Diante da mais nobre e natural beleza,
Com o brilho reluzente de um diamante,
Mesmo dentro de um sonho tive a certeza,
Que estava diante de uma pessoa elegante.

É maravilhoso poder sonhar e descrever,
Um fato resultante de um pensamento,
Sendo tão maravilhoso poder nos envolver,
Marcando a vida com um lindo sentimento.

Diante de um profundo requinte de beleza,
Vejo a anatomia de seu rosto em harmonia,
Unindo sabedoria com estilo e delicadeza,

Esboçando um lindo corpo em total sintonia.

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RICARDO RAMOS - CIRCUITO FECHADO

CIRCUITO FECHADO

Ricardo Ramos: contos, 1978


Resultado de imagem para CIRCUITO FECHADOChinelo, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoadura, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Mesa e poltrona, cadeira, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, telefone. Bandeja, xícara pequena. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vale, cheques, memorando, bilhetes, telefone, papéis. Relógio, mesa, cavalete, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeira, copo, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, telefone, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesas, cadeiras, prato, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Poltrona, livro. Televisor, poltrona. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
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domingo, 16 de abril de 2017

MILLÔR FERNANDES - POESIA MATEMÁTICA

Poesia Matemática

MILLÔR FERNANDES

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,

corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
uma perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.

sábado, 15 de abril de 2017

HUMBERTO DE CAMPOS - O COMANDANTE DO "CORPO"

O COMANDANTE DO “CORPO”
HUMBERTO DE CAMPOS
LIVRO: ALCOVA E SALÃO


Resultado de imagem para militar desenhoO Conde de Choiseul, que era amante de Ninon de Lenelos, não entendia nada de coisas do amor. Fatigada de suas inabilidades, Ninon acabou por afastá-lo de si, preferindo a esse fidalgo o célebre dançarino Pécourt.
Um dia encontraram-se os dois na casa da formosa cortesã. Pécourt usava roupa que parecia um uniforme militar. O conde notou isso, e, para ridicularizá-lo, indagou:
- Cavalheiro, em que corpo o senhor serve?
- Senhor, - respondeu Pécourt, numa reverência, - eu atualmente comando um “corpo” onde vós servistes durante muito tempo!
E afastou-se, digno.

fim

HUMBERTO DE CAMPOS - NAPOLEÃO GALANTE

NAPOLEÃO GALANTE
HUMBERTO DE CAMPOS 
LIVRO: ALCOVA E SALÃO
Napoleão I havia notado, um dia, uma linda mulher, e fê-la saber, com o laconismo que lhe era habitual, que a esperava no dia seguinte, às 8 horas da noite, no palácio das Tulherias. Não é preciso dizer que a dama foi de uma pontualidade inglesa; o Imperador estava, porém, em conselho de ministros, e o camareiro pediu à moça que esperasse. E ela esperou.
Às 9 horas, a rapariga manda lembrar ao soberano que está às suas ordens.
- Que ela se dispa, - responde-lhe Bonaparte, sem interromper o seu trabalho com os ministros.
Às 9 1/2, novo emissário; e nova resposta do Imperador.
- Que ela se deite! – manda ele dizer.
Às 10 ½, novo recado da madame. E Napoleão, conciso:
- Que ela se levante, se vista, e se vá embora!
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terça-feira, 11 de abril de 2017

ADELAIDE ABREU DOS SANTOS - MACHISMO OU HERANÇA DE SOBREVIVÊNCIA!?

MACHISMO OU HERANÇA DA SOBREVIVÊNCIA?
ADELAIDE ABREU DOS SANTOS 

I   -   RETROSPECTIVA HISTÓRICA

Será que o machismo existe da maneira que é encarado no nosso discurso de hoje?
Vamos fazer uma retrospectiva histórica, pois é para isso que se estuda. Estuda-se para ter bagagem, para refletir, comparar e deduzir, consequentemente teremos as conclusões mais compatíveis à realidade e baseados nelas é que teremos o conhecimento, com ele desenvolveremos nossa capacidade crítica para que saibamos fazer comparações. Isto posto vamos ao tema.
Retrocedendo na história da humanidade, vamos para a Pré-História, ou como se diz normalmente a Idade das Cavernas, Qual era o comportamento? Pelas charges e brincadeiras, sabe-se que a mulher era subordinada ao homem; talvez porque apenas ele sabia enfrentar as adversidades e caçar para a sua sobrevivência; servia-o em todos os sentidos, diria que nesta época a mulher é que era servida, posto que o homem saia para caçar e trazia a caça para sua caverna, onde a esquartejava, comia e então após se locupletar deixava as sobras, que eram devoradas pela mulher.
Nesta época não havia conceito de casa, de varrer, de espanar, de estocar, de decorar, de nada, pois o que se caçava se consumia e não se estocava, mesmo porque apodrecia, então os restos eram deixados na floresta para os predadores. Portanto a mulher era meramente o objeto de satisfação sexual fisiológica, na verdade era um ato físico, não estando envolvido, pela aura romântica, que lhe foi atribuída séculos depois, de que o sexo seria algo sublime, que só se devia fazer por amor. Na época de que falamos o sexo era meramente uma liberação fisiológica como urinar e evacuar, além evidentemente, sem que tivessem noção, o perpetuador da espécie. Eram movidos por instintos inexplicáveis para eles e assim se reproduziam, sem nem ao menos terem consciência dessa necessidade.

II   -   PERTENCIMENTO

Posteriormente o homem foi evoluindo e de nômade passou a se radicar, foi quando começou a amanhar a terra, pois necessitava permanecer no local para acompanhar todo o processo do cultivo e colheita e então começou a germinar um sentimento de pertencimento. O cultivo demanda muita necessidade de trabalho físico: o preparo da terra, a plantação, a colheita e a armazenagem para consumo, os planos foram se modificando à medida em que surgiam as necessidades, o homem passou a se radicar num espaço determinado que lhe propiciasse condições de cultivo e abrigo das intempéries.
O abrigo inicialmente pode ter sido uma caverna perto da terra fértil, mas quando esse abrigo natural não era encontrado, abrigavam-se sob moitas, ou árvores frondosas e aos poucos de acordo com as circunstâncias toscamente começou a improvisar seu abrigo com galhos, depois pondo sobre eles lama, para evitar o sol e a chuva, evoluiu para as pedras, claro que isso só ocorreu em território rochoso, empilhando as pedras para proteger-se do vento, da chuva e do sol e também da neve, onde esta caia...
Agora usava os galhos para fazer a cobertura de seu abrigo, as pedras serviam também para a fogueira, que servia para aquecer seu abrigo, evidente que nesta época já havia descoberto como fazer fogo e também já começava a cozinhar os alimentos, percebeu que a fumaça incomodava, fez um buraco para dissipá-la, mas como ela subia para o teto e enfumaçava o ambiente, resolveu fazer um buraco no teto sobre a pedra do fogo, lógico que quando chovia a chuva apagava o fogo, houve necessidade de melhorar esse duto e evoluiu para a chaminé, que encaminha a fumaça para a área externa sem que água ou vento interfiram no interior da casa, isto depois de muitas tentativas e experimentos.
O tempo continua passando e o homem deu--se conta de que a moradia era escura, e não era arejada, o que hoje chamaríamos de insalubre. Foram matutando e fazendo experiências e chegaram à concepção das janelas, das portas e eis que surgem as casas! Não como as conhecemos hoje, mas um protótipo tosco do futuro.

III   -   mudança sutil no papel da mulher
A mulher começa também a ser objeto de mudança, cresce sua importância como reprodutora, pois havia necessidade de braços para trabalhar no cultivo, na colheita, na estocagem, na seleção e na distribuição. Vai-se evoluindo cada vez mais, novas exigências surgem. Descobre-se que se os alimentos são cozinhados, duram mais, as indisposições estomacais não são mais tão freqüentes, os alimentos ficam, mais apetitosos e fáceis de engolir, então a mulher de simples reprodutora passa a zeladora dos filhos, dos alimentos e da casa. A casa vai adquirindo novos contornos e exigências de acordo com a criatividade feminina e ela a vai enfeitando, vai ampliando-a e cria divisórias, consoante sua imaginação, cria atribuições para seus novos espaços e para o conforto dos moradores e então além de reprodutora, se torna cozinheira, costureira, arrumadeira e anfitriã. E assim a mulher vai levando a vida especializando-se cada vez mais, nas artes culinárias, nas artes manuais e no gerenciamento da casa.

Iv   -   REGISTRO HISTÓRICO
                  
Os hieróglifos transformam-se em letras e o homem sai da oralidade pura e dos desenhos e começa a procurar registrar as suas conquistas de maneira bem explícita. Começa-se o registro histórico dos fatos, através dos espiritualistas, pois se dedicavam ao estudo da ciência. Para que não paire dúvida sobre os fatos narrados; não se levava em conta a vaidade e paixão, que sempre nos levam a exagerar um pouco ou a florear o que vivemos. Faziam seus registros de maneira isenta. Até então a história dos feitos era oral, através dos anciãos, que revelavam às crianças os feitos de seus antepassados.
Antigos pajés, ou sacerdotes começam a procurar registrar os dogmas em papiros e surge então a sistematização do conhecimento. Surgem os registros não só de normas, como de descobertas de novas terras, ou de inovações para simplificar a vida diária, que posteriormente seriam denominadas de tecnologia científica.
             E a mulher que até então era somente reprodutora, passa a ouvinte dos sonhos mirabolantes do marido e de passiva, a incentivadora e até conselheira, em alguns casos os dois crescem juntos, mas mesmo assim é mantido o “satus” de coadjuvante, a prioridade continua a ser de gerar, cuidar, vestir, alimentar e orientar nos quesitos de convivência e os filhos homens para atividades externas e as mulheres para as prendas do lar. Afinal os filhos são a riqueza da família, pois são eles que vão juntar forças às forças do pai para garantir o sustento da família. E a filha se constitui em moeda de troca, pois a reprodução é necessária e as famílias necessitam se multiplicar.

V   -   MUDANÇAS SOCIAIS

             Surgem guerras e muitos homens são dizimados, 
terras ficam acéfalas e onde não havia filhos homens com idade de assumir, recai sobre a mulher se deixar ser espoliada ou assumir o mando. E é assim que surgem mulheres de fibra, que pegam à unha os problemas para resolvê-los em prol de seus filhos.
Os séculos vão passando, o mundo vai-se povoando mais e mais, o isolamento vai desaparecendo, surgem as vilas, em seguida as cidades e as megalópoles. O homem fica sequioso de poder, cego de ambição, cada vez mais por dominar e se distinguir e vai desbravando novos espaços. Cria-se o conceito de hombridade e para ser homem não precisa mais ser honesto e de palavra, mas ter dinheiro, poder e manipular os eventos, a seu bel prazer, esquecendo valores e respeito. A hombridade é posta à prova, o desejo de ser o maior o cega e ele supera tudo e todos e surgem os feudos, os países, os descobrimentos através dos oceanos e o homem cada vez procura mais e mais o seu poder, que é a sua força. E a mulher onde é que está? Agora ela é a castelã, ou a cortesã, e novas atribuições lhe vão sendo dadas. Antes sempre resguardada, quase aprisionada, não devia ser vista por outro olhos de homem a não ser seu próprio marido, pois o medo à cobiça  e ao rapto da mulher os faziam temer a exposição da mulher, agora é exposta passa a recepcionar e presidir a mesa com seu marido, recebendo os aliados e promovendo mais alianças, que os beneficiem. 

VI   -   conhecimento

Resultado de imagem para papírosO estudo agora faz parte da vida masculina, pois para se constituir num líder e governar, o indivíduo tem que conhecer a arte do bem falar, ou oratória, do envolvimento de pares, os da mesma classe social, ou seja os do poder, para fortalecer-se e assim contar com o apoio dos mesmos e dar-lhes  seu apoio, onde lhes conviver, inicia-se a cadeia de conveniências, urdem-se as tramas de estratégias políticas e táticas, para se manter no ápice e a mulher se aprimora na arte de bem receber, da intriga, da criação de alianças, através das esposas e mães dos poderosos. Seu papel mudou, mas o estudo ainda não faz parte de seu universo, pois o local onde se ensina são os monastérios, local só de homens, a entrada da mulher é proibida. Afinal os estudiosos eram monges celibatários e viviam no isolamento, meramente dedicados ao estudo da ciência, não deveriam ser distraídos pela mulher, que era a emissária de satanás para fazê-los cair em tentação.
Os bem nascidos iam para os internatos, aprender a arte da oratória, da argumentação, da estratégia, das artimanhas necessárias a se alcançar o objetivo almejado, além dos maneirismos necessários à posição que herdariam. Algumas mulheres tiveram o privilégio de terem pais excepcionais e visionários, que as introduziram na leitura e nos conhecimentos da matemática, mas eram muito poucas e normalmente para se casarem tinham que omitir esse conhecimento, pois poderia constituir-se em empecilho para a aliança, já que o conhecimento era uma arte meramente masculina, desnecessária às mulheres, que se constituiriam em concorrentes, pois pensariam como um homem e agiriam como tal. Esse era o temor existente na época, a concorrência feminina. às mulheres competia ficarem em casa e apenas se esmerar na arte de receber, das boas maneiras, de fazer articulações, de tecer intrigas e de orientar os serviços da casa.

VII   -   novos pensares e olhares


O tempo transcorreu implacável e acabam-se os feudos, os palácios, surge a burguesia, a industrialização e novas guerras, estas muito mais agressivas e destruidoras, que as de antanho, pois a indústria bélica, vinha num crescendo de inovação tecnológica para infligir perdas mais significativas nos exércitos oponentes, só que a destruição não é unilateral e ambos os lados são dizimados.
Como consequência a mão de obra fica escassa, muitas famílias ficam acéfalas, pois os pais foram mortos na guerra e surgem problemas inimagináveis até então e que necessitam de solução imediata, como o fato das lavras estarem destruídas pela passagem dos equipamentos bélicos e faltar alimento para a população dos países onde passam as lagartas dos carros de guerra.
Todos os problemas oriundos dos efeitos da guerra subverteram toda a ordem anterior e o mundo se abre para a mulher, pois a escassez de mão de obra pressiona o mercado para aceitar a força motriz da mulher e a mulher sai do lar para que possa sustentar sua prole, sua família e ela passam a ajudar na produção das indústrias.
Esta nova realidade provoca novamente mudanças comportamentais, agora as mulheres precisam aprender novas tarefas para poderem cumprir com o esperado delas nas indústrias, em consequência de tantas inovações nas exigências da sociedade produtiva, abre-se um novo horizonte para as mulheres, motivado única e exclusivamente pelos interesses mercantilistas e ela é aceite nas escolas, em muitos países como o Brasil só garantirão o acesso à escola em 1930, até então a mulher era descartada como ser pensante e digno de desenvolvimento intelectual, mas é bom que se deixe claro que isso só ocorre nas séries iniciais, pois seria suficiente que aprendessem a ler e a ter os rudimentos da matemática. O Brasil ainda não tem mercado para as mulheres.

VIIi   -   novos tempos

Hoje após tantas reviravoltas as mulheres se equiparam aos homens, compete em pé de igualdade em muitas áreas, apesar das discriminações salariais, mas perde muito por perder tempo discutindo conceitos, pois é mais importante ser do que impor, a melhor resposta está nas estatísticas, que provam que hoje há um número maior de mulheres do eu de homens com grau de escolaridade mais avançado, a quantidade de aprovações conteudísticas prova que o índice de mulheres em aprovações é superior ao dos homens e também quanto ao nível de escolaridade. As mulheres perdem tempo demais com discussões desnecessárias, pois os números provam que elas são melhor preparadas, para quê se sentir inferior e reclamar igualdade se já a conquistamos? Que igualdade? Salarial? De condições de trabalho? Para quê bater boca, se é só uma questão de agir e através das atitudes provar a competência?! O bate boca só provoca a discriminação, pois nos torna inferiores, mesquinhas e encrenqueiras. As que têm competência mesmo, não perdem tempo rotulando os homens de machistas, apenas agem e os atropelam com seus resultados e conquistas, quer seja de salário, quer seja de vantagens. Seu verdadeiro valor está no resultado de seus feitos e se tornam imprescindíveis, mas infelizmente ainda temos um grupo elevado que quer rótulos sem merecimento, pois ainda tem mentalidade tacanha e quer discutir direitos, mas os direitos são conquistados através de ações não de discussões!
Viva a mulher superior, que não grita, não esbraveja, não bate o pé, apenas age com discrição e competência, conquistando resultados invejáveis e o zênite. Essa mulher superou a sensação de inferioridade e provou para si mesma que apesar da sua origem inicial de sobrevivente, e, portanto subserviente, assume o seu papel hodierno na sociedade, guiando-o com seu tirocínio e tendo as rédeas de seu mundo nas mãos. Ela escreve o seu próprio futuro!

VILA VELHA, 16/03/2017.

sábado, 8 de abril de 2017

ADELAIDE ABREU DOS SANTOS - O VESTIDO DE SILVIA

O VESTIDO DA SILVIA
ADELAIDE ABREU DOS SANTOS

06/04/2017 
Resultado de imagem para O VESTIDO EVASÊUm dia estava a Silvia batendo perna num bairro de confecções e olhando gulosa as vitrines das lojas. Eis que visualizou um lindo vestido evasê, encanta-se e o desejo de ter é superior à razão. Num impulso entra na loja e pede o vestido.
Que tecido! Que cores! Que modelo! Que caimento! Um sonho de vestido! Pensou: vou ficar maravilhosa, neste vestido, vai realçar a minha silhueta!
Feliz! Dirige-se ao provador apressada, antegozando o clímax de menear os quadris e o tecido dançar em torno deles e de suas coxas, num bamboleado irresistível e dando-lhe aquele visual estonteante, tão almejado.
Tirou a roupa, ajeitou a calcinha que se havia enrolado sob a banha da barriga e zás! Vestiu-se...Mas... Onde estava a leveza do vestido? Seu balanço, seu charme?
Olhou-se no espelho!... Sentiu-se entalada pelo vestido, como se este fosse o forro de um colchão. Disforme, inteiriço, colado, melhor dizendo atochado como se fosse o forro de um colchão. Não havia balanço, só apertava e quando tentou tirá-lo na saia, grudado que estava feito uma ventosa no seu corpo. Tentou abaixar os braços, de tão apertado a cava não lhe permitia esse movimento, tentou puxar o vestido, não conseguia, não deslizava nem um centímetro. Rodou sobre si mesma, como um pião, buscando uma solução, para descobrir por onde puxá-lo, para se despir, mas nada!... Apenas ficou tonta e nada de solução!
Recomeçou. Levantou um braço, mas não conseguia

puxar o vestido, pois como já foi dito, estava muito apertado. Depois de suar tentando se despir de mil maneiras impossíveis, se rendeu e pôs a cabeça para fora do provador, tentando chamar a atendente, mas não havia ninguém à vista. Esperou um pouco e então chamou, como não sabia o nome da atendente, usou o recurso das interjeições: - Ei!, Nada... - Psiu! E nada... Já desesperada, começou a gritar: - Moçaaaa!... Nada! – Por favaooor!... Nada! - Alguém!... por fim apelou para: – Socorroooo! E nada ainda. Entrou em desespero.
Não se sentia à vontade para sair do provador, pois sabia da sua triste figura, mas anelava pelo socorro, pois sozinha não conseguiria tirar o vestido.
Ensaiou sair da cabine, andar no corredor dos provadores, mas não viu ninguém. O que fazer? Resolveu esperar um pouco mais, temia qua a loja fechasse e ela ficasse presa na loja e no vestido de que já era refém... Lá pelas tantas a moça apareceu. Silvia estava desfigurada, vermelha como um pimentão, suando por todos os poros, os olhos esgazeados de terror de ficar escravizada ao vestido e à loja. A moça pergunta-lhe: - Então gostou!? Vai ficar com o vestido? E Silvia diz: - Só se você não me ajudar a tirá-lo. Morrerei com ele!
A atendente suou para conseguir tirar o vestido da Silvia, quase desistiu e recorreu a uma tesoura, mas depois de muitos: - Hum, hum, - Ui, ui, - Ai, ai. Conseguiram enfim! Ufa! E o vestido saiu ileso.
Silvia olhou-o como se fosse uma cobra peçonhenta. Vestiu-se com o seu vestidinho e saiu porta a fora, sem aquele vestido HORROROSOOOOOOOOO....
Conclusão: o vestido não era para a Silvia!