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terça-feira, 11 de abril de 2017

ADELAIDE ABREU DOS SANTOS - MACHISMO OU HERANÇA DE SOBREVIVÊNCIA!?

MACHISMO OU HERANÇA DA SOBREVIVÊNCIA?
ADELAIDE ABREU DOS SANTOS 

I   -   RETROSPECTIVA HISTÓRICA

Será que o machismo existe da maneira que é encarado no nosso discurso de hoje?
Vamos fazer uma retrospectiva histórica, pois é para isso que se estuda. Estuda-se para ter bagagem, para refletir, comparar e deduzir, consequentemente teremos as conclusões mais compatíveis à realidade e baseados nelas é que teremos o conhecimento, com ele desenvolveremos nossa capacidade crítica para que saibamos fazer comparações. Isto posto vamos ao tema.
Retrocedendo na história da humanidade, vamos para a Pré-História, ou como se diz normalmente a Idade das Cavernas, Qual era o comportamento? Pelas charges e brincadeiras, sabe-se que a mulher era subordinada ao homem; talvez porque apenas ele sabia enfrentar as adversidades e caçar para a sua sobrevivência; servia-o em todos os sentidos, diria que nesta época a mulher é que era servida, posto que o homem saia para caçar e trazia a caça para sua caverna, onde a esquartejava, comia e então após se locupletar deixava as sobras, que eram devoradas pela mulher.
Nesta época não havia conceito de casa, de varrer, de espanar, de estocar, de decorar, de nada, pois o que se caçava se consumia e não se estocava, mesmo porque apodrecia, então os restos eram deixados na floresta para os predadores. Portanto a mulher era meramente o objeto de satisfação sexual fisiológica, na verdade era um ato físico, não estando envolvido, pela aura romântica, que lhe foi atribuída séculos depois, de que o sexo seria algo sublime, que só se devia fazer por amor. Na época de que falamos o sexo era meramente uma liberação fisiológica como urinar e evacuar, além evidentemente, sem que tivessem noção, o perpetuador da espécie. Eram movidos por instintos inexplicáveis para eles e assim se reproduziam, sem nem ao menos terem consciência dessa necessidade.

II   -   PERTENCIMENTO

Posteriormente o homem foi evoluindo e de nômade passou a se radicar, foi quando começou a amanhar a terra, pois necessitava permanecer no local para acompanhar todo o processo do cultivo e colheita e então começou a germinar um sentimento de pertencimento. O cultivo demanda muita necessidade de trabalho físico: o preparo da terra, a plantação, a colheita e a armazenagem para consumo, os planos foram se modificando à medida em que surgiam as necessidades, o homem passou a se radicar num espaço determinado que lhe propiciasse condições de cultivo e abrigo das intempéries.
O abrigo inicialmente pode ter sido uma caverna perto da terra fértil, mas quando esse abrigo natural não era encontrado, abrigavam-se sob moitas, ou árvores frondosas e aos poucos de acordo com as circunstâncias toscamente começou a improvisar seu abrigo com galhos, depois pondo sobre eles lama, para evitar o sol e a chuva, evoluiu para as pedras, claro que isso só ocorreu em território rochoso, empilhando as pedras para proteger-se do vento, da chuva e do sol e também da neve, onde esta caia...
Agora usava os galhos para fazer a cobertura de seu abrigo, as pedras serviam também para a fogueira, que servia para aquecer seu abrigo, evidente que nesta época já havia descoberto como fazer fogo e também já começava a cozinhar os alimentos, percebeu que a fumaça incomodava, fez um buraco para dissipá-la, mas como ela subia para o teto e enfumaçava o ambiente, resolveu fazer um buraco no teto sobre a pedra do fogo, lógico que quando chovia a chuva apagava o fogo, houve necessidade de melhorar esse duto e evoluiu para a chaminé, que encaminha a fumaça para a área externa sem que água ou vento interfiram no interior da casa, isto depois de muitas tentativas e experimentos.
O tempo continua passando e o homem deu--se conta de que a moradia era escura, e não era arejada, o que hoje chamaríamos de insalubre. Foram matutando e fazendo experiências e chegaram à concepção das janelas, das portas e eis que surgem as casas! Não como as conhecemos hoje, mas um protótipo tosco do futuro.

III   -   mudança sutil no papel da mulher
A mulher começa também a ser objeto de mudança, cresce sua importância como reprodutora, pois havia necessidade de braços para trabalhar no cultivo, na colheita, na estocagem, na seleção e na distribuição. Vai-se evoluindo cada vez mais, novas exigências surgem. Descobre-se que se os alimentos são cozinhados, duram mais, as indisposições estomacais não são mais tão freqüentes, os alimentos ficam, mais apetitosos e fáceis de engolir, então a mulher de simples reprodutora passa a zeladora dos filhos, dos alimentos e da casa. A casa vai adquirindo novos contornos e exigências de acordo com a criatividade feminina e ela a vai enfeitando, vai ampliando-a e cria divisórias, consoante sua imaginação, cria atribuições para seus novos espaços e para o conforto dos moradores e então além de reprodutora, se torna cozinheira, costureira, arrumadeira e anfitriã. E assim a mulher vai levando a vida especializando-se cada vez mais, nas artes culinárias, nas artes manuais e no gerenciamento da casa.

Iv   -   REGISTRO HISTÓRICO
                  
Os hieróglifos transformam-se em letras e o homem sai da oralidade pura e dos desenhos e começa a procurar registrar as suas conquistas de maneira bem explícita. Começa-se o registro histórico dos fatos, através dos espiritualistas, pois se dedicavam ao estudo da ciência. Para que não paire dúvida sobre os fatos narrados; não se levava em conta a vaidade e paixão, que sempre nos levam a exagerar um pouco ou a florear o que vivemos. Faziam seus registros de maneira isenta. Até então a história dos feitos era oral, através dos anciãos, que revelavam às crianças os feitos de seus antepassados.
Antigos pajés, ou sacerdotes começam a procurar registrar os dogmas em papiros e surge então a sistematização do conhecimento. Surgem os registros não só de normas, como de descobertas de novas terras, ou de inovações para simplificar a vida diária, que posteriormente seriam denominadas de tecnologia científica.
             E a mulher que até então era somente reprodutora, passa a ouvinte dos sonhos mirabolantes do marido e de passiva, a incentivadora e até conselheira, em alguns casos os dois crescem juntos, mas mesmo assim é mantido o “satus” de coadjuvante, a prioridade continua a ser de gerar, cuidar, vestir, alimentar e orientar nos quesitos de convivência e os filhos homens para atividades externas e as mulheres para as prendas do lar. Afinal os filhos são a riqueza da família, pois são eles que vão juntar forças às forças do pai para garantir o sustento da família. E a filha se constitui em moeda de troca, pois a reprodução é necessária e as famílias necessitam se multiplicar.

V   -   MUDANÇAS SOCIAIS

             Surgem guerras e muitos homens são dizimados, 
terras ficam acéfalas e onde não havia filhos homens com idade de assumir, recai sobre a mulher se deixar ser espoliada ou assumir o mando. E é assim que surgem mulheres de fibra, que pegam à unha os problemas para resolvê-los em prol de seus filhos.
Os séculos vão passando, o mundo vai-se povoando mais e mais, o isolamento vai desaparecendo, surgem as vilas, em seguida as cidades e as megalópoles. O homem fica sequioso de poder, cego de ambição, cada vez mais por dominar e se distinguir e vai desbravando novos espaços. Cria-se o conceito de hombridade e para ser homem não precisa mais ser honesto e de palavra, mas ter dinheiro, poder e manipular os eventos, a seu bel prazer, esquecendo valores e respeito. A hombridade é posta à prova, o desejo de ser o maior o cega e ele supera tudo e todos e surgem os feudos, os países, os descobrimentos através dos oceanos e o homem cada vez procura mais e mais o seu poder, que é a sua força. E a mulher onde é que está? Agora ela é a castelã, ou a cortesã, e novas atribuições lhe vão sendo dadas. Antes sempre resguardada, quase aprisionada, não devia ser vista por outro olhos de homem a não ser seu próprio marido, pois o medo à cobiça  e ao rapto da mulher os faziam temer a exposição da mulher, agora é exposta passa a recepcionar e presidir a mesa com seu marido, recebendo os aliados e promovendo mais alianças, que os beneficiem. 

VI   -   conhecimento

Resultado de imagem para papírosO estudo agora faz parte da vida masculina, pois para se constituir num líder e governar, o indivíduo tem que conhecer a arte do bem falar, ou oratória, do envolvimento de pares, os da mesma classe social, ou seja os do poder, para fortalecer-se e assim contar com o apoio dos mesmos e dar-lhes  seu apoio, onde lhes conviver, inicia-se a cadeia de conveniências, urdem-se as tramas de estratégias políticas e táticas, para se manter no ápice e a mulher se aprimora na arte de bem receber, da intriga, da criação de alianças, através das esposas e mães dos poderosos. Seu papel mudou, mas o estudo ainda não faz parte de seu universo, pois o local onde se ensina são os monastérios, local só de homens, a entrada da mulher é proibida. Afinal os estudiosos eram monges celibatários e viviam no isolamento, meramente dedicados ao estudo da ciência, não deveriam ser distraídos pela mulher, que era a emissária de satanás para fazê-los cair em tentação.
Os bem nascidos iam para os internatos, aprender a arte da oratória, da argumentação, da estratégia, das artimanhas necessárias a se alcançar o objetivo almejado, além dos maneirismos necessários à posição que herdariam. Algumas mulheres tiveram o privilégio de terem pais excepcionais e visionários, que as introduziram na leitura e nos conhecimentos da matemática, mas eram muito poucas e normalmente para se casarem tinham que omitir esse conhecimento, pois poderia constituir-se em empecilho para a aliança, já que o conhecimento era uma arte meramente masculina, desnecessária às mulheres, que se constituiriam em concorrentes, pois pensariam como um homem e agiriam como tal. Esse era o temor existente na época, a concorrência feminina. às mulheres competia ficarem em casa e apenas se esmerar na arte de receber, das boas maneiras, de fazer articulações, de tecer intrigas e de orientar os serviços da casa.

VII   -   novos pensares e olhares


O tempo transcorreu implacável e acabam-se os feudos, os palácios, surge a burguesia, a industrialização e novas guerras, estas muito mais agressivas e destruidoras, que as de antanho, pois a indústria bélica, vinha num crescendo de inovação tecnológica para infligir perdas mais significativas nos exércitos oponentes, só que a destruição não é unilateral e ambos os lados são dizimados.
Como consequência a mão de obra fica escassa, muitas famílias ficam acéfalas, pois os pais foram mortos na guerra e surgem problemas inimagináveis até então e que necessitam de solução imediata, como o fato das lavras estarem destruídas pela passagem dos equipamentos bélicos e faltar alimento para a população dos países onde passam as lagartas dos carros de guerra.
Todos os problemas oriundos dos efeitos da guerra subverteram toda a ordem anterior e o mundo se abre para a mulher, pois a escassez de mão de obra pressiona o mercado para aceitar a força motriz da mulher e a mulher sai do lar para que possa sustentar sua prole, sua família e ela passam a ajudar na produção das indústrias.
Esta nova realidade provoca novamente mudanças comportamentais, agora as mulheres precisam aprender novas tarefas para poderem cumprir com o esperado delas nas indústrias, em consequência de tantas inovações nas exigências da sociedade produtiva, abre-se um novo horizonte para as mulheres, motivado única e exclusivamente pelos interesses mercantilistas e ela é aceite nas escolas, em muitos países como o Brasil só garantirão o acesso à escola em 1930, até então a mulher era descartada como ser pensante e digno de desenvolvimento intelectual, mas é bom que se deixe claro que isso só ocorre nas séries iniciais, pois seria suficiente que aprendessem a ler e a ter os rudimentos da matemática. O Brasil ainda não tem mercado para as mulheres.

VIIi   -   novos tempos

Hoje após tantas reviravoltas as mulheres se equiparam aos homens, compete em pé de igualdade em muitas áreas, apesar das discriminações salariais, mas perde muito por perder tempo discutindo conceitos, pois é mais importante ser do que impor, a melhor resposta está nas estatísticas, que provam que hoje há um número maior de mulheres do eu de homens com grau de escolaridade mais avançado, a quantidade de aprovações conteudísticas prova que o índice de mulheres em aprovações é superior ao dos homens e também quanto ao nível de escolaridade. As mulheres perdem tempo demais com discussões desnecessárias, pois os números provam que elas são melhor preparadas, para quê se sentir inferior e reclamar igualdade se já a conquistamos? Que igualdade? Salarial? De condições de trabalho? Para quê bater boca, se é só uma questão de agir e através das atitudes provar a competência?! O bate boca só provoca a discriminação, pois nos torna inferiores, mesquinhas e encrenqueiras. As que têm competência mesmo, não perdem tempo rotulando os homens de machistas, apenas agem e os atropelam com seus resultados e conquistas, quer seja de salário, quer seja de vantagens. Seu verdadeiro valor está no resultado de seus feitos e se tornam imprescindíveis, mas infelizmente ainda temos um grupo elevado que quer rótulos sem merecimento, pois ainda tem mentalidade tacanha e quer discutir direitos, mas os direitos são conquistados através de ações não de discussões!
Viva a mulher superior, que não grita, não esbraveja, não bate o pé, apenas age com discrição e competência, conquistando resultados invejáveis e o zênite. Essa mulher superou a sensação de inferioridade e provou para si mesma que apesar da sua origem inicial de sobrevivente, e, portanto subserviente, assume o seu papel hodierno na sociedade, guiando-o com seu tirocínio e tendo as rédeas de seu mundo nas mãos. Ela escreve o seu próprio futuro!

VILA VELHA, 16/03/2017.

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