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segunda-feira, 16 de março de 2015

ANÔNIMO - “O PORCO QUE ERA ESPERTO DEMAIS” - CONTO CHINÊS

“O Porco que Era Esperto Demais”
ANÔNIMO
Conto Chinês

Resultado de imagem para O PORCO QUE ERA ESPERTO DEMAISEra uma vez, muito tempo atrás, vivia na vila de Tsan-yang um senhor chamado Li. Todos o chamavam de Li Tai-yeh, ou Grande Mestre, pois ele era o homem mais rico da região. Sua fazenda era gigantesca e sua casa tinha cem aposentos e um enorme jardim. Ninguém tinha a mínima inveja dele, pois Li Tai-yeh, diferente da maioria das pessoas ricas, era muito generoso com sua riqueza. Seu amor por animais era bem conhecido na redondeza e os animais devolviam todo aquele amor a ele.
Com o tempo, Li Tai-yeh passou a ter um grande número de animais e muitos tipos deles em sua fazenda. Alguns foram comprados de mercadores, mas a maioria passava por sua fazenda e por serem bem alimentados acabavam ficando. Li Tai-yeh nunca pediu nada em retorno, ele simplesmente cuidava dos animais por amor. Mas acontece que instintivamente, os animais sentiam a necessidade de ajudá-lo em tudo o que pudessem.
O cão negro ficava de guarda e protegia a fazenda de qualquer estranho que se aproximasse. O grande galo sempre acordava os trabalhadores pela manhã, fizesse sol ou chuva, ele estava lá pontual cumprindo seu dever. O gato-do-mato, que tinha listras amarelas e pretas, era chamado de Pequeno Tigre. Ele tinha uma alma independente e passava o dia passeando pela fazenda, mas à noite, ele protegia a casa dos ratos. O cavalo levava o filho de Li para a escola, o boi puxava a carroça e o  carneiro retirava o capim que crescia entre as plantações de arroz. Todos eles ajudavam com muita dedicação e ficavam contentes em poder retribuir os bons cuidados de Li. Quer dizer, todos, com exceção do porco.
Este porco era um animal esperto chamado Chu Lao-erh. Ele observava o que acontecia ao seu redor e pensava, “Já que todos estão trabalhando menos eu e o mestre continua a me alimentar, por que eu deveria trabalhar? Ele não me pede para fazer nada, então eu vou mesmo é continuar comendo e descansando.”
Então, Chu Lao-erh comia o dia todo, rolava na lama e ficava imundo e fedorento para que nenhum animal ousasse se aproximar dele. Todos os dias, ele dormia até o meio-dia, bem a hora do seu imenso almoço. Comia até não poder mais e cochilava até a hora do jantar. E após o jantar, dormia até o dia seguinte.
Vez ou outra, algum animal se aproximava dele e dizia:
¾    Por que você não se levanta e faz algo de útil?  Você deveria perder peso, você está muito gordo.
Mas Chu Lao-erh fingia que não estava entendendo o que estavam dizendo e ficava sem responder. Ele gemia, virava para o outro lado e dormia de novo.
Como resultado, Chu Lao-erh ficou tão gordo, mas tão gordo que, mesmo se quisesse trabalhar, não conseguiria. Às vezes, até para comer se sentia cansado. Começou a reclamar que sua comida não era bem preparada, não chegava na hora certa. Como se sabe, reclamações sempre trazem algum resultado.
As pessoas da fazenda passaram a achar que o porco não estava se sentindo bem por causa da comida e começaram a preparar melhores alimentos para ele. Mas enquanto isso, o vizinho de Li visitou a fazenda e viu o porco. E disse a Li:
¾    Este porco não faz nada para você! Ele é completamente inútil! Eu troco oito patos com você por este porco. Pelo menos os patos te darão ovos.
Li ficou triste, pois sabia que a família de seu vizinho era muito pobre e não conseguiria dar ao seu porco o mesmo tipo de alimentação. Mas entregou o porco ao vizinho.
Seu vizinho amarrou Chu Lao-erh e com ajuda de mais duas pessoas, levou-o ao mercado. Era inverno e as pessoas pagavam muito pela gordura do porco, e Chu Lao-erh rendeu-lhe muito dinheiro para cuidar de sua família.

“Tsung-ming pei tsung-ming wu”, ou, “Os espertos geralmente caem nas armadilhas de sua própria esperteza”.

domingo, 15 de março de 2015

ANÔNIMO - “O CÃO EM SUA BUSCA PELA LUZ” - CONTO KOREANO

“O Cão em sua Busca pela Luz”
ANÔNIMO
CONTO KOREANO

        Era uma vez, num mundo bem distante, havia um planeta chamado Terra da Escuridão. Como o nome mesmo diz, não havia luz alguma ali, e a noite era perpétua. As pessoas dali estavam acostumadas à escuridão e tinham os sentidos da audição e do olfato muito desenvolvidos, também sua percepção espacial era muito aguçada. Mas a verdade era que apesar de conseguirem viver suas vidas sem luz, as pessoas eram muito infelizes e deprimidas. Estavam cansadas daquela escuridão infindável. E eles diziam:
        -  Como eu gostaria que houvesse luz!
      -  Ah, se tivéssemos dia e noite, e não só noite!
       -  A vida seria muito melhor se tivéssemos um pouco de luz!
     É claro que o Rei da Terra da Escuridão também desejava a luz e começou a observar a Terra, que tinha seu sol e sua lua, portanto tinha luz de dia e à noite. Pensou que por termos duas fontes de luz, levar uma delas para o seu mundo não nos faria tanta falta assim.
           Acontece que na Terra da Escuridão havia uma imensa população de cães. Todos tinham um cão em casa, mas entre todos aqueles cães, havia um que era excepcional. Esse cão era grande, forte, de pelos espessos e de uma inteligência fora do comum. Além de todas essas qualidades, ele também possuía um focinho gigantesco. E seu focinho não só era gigante, como também suportava o contato com extremo frio e extremo calor. Aquele cão carregava em seu focinho até mesmo bolas de fogo, e por isso, seu nome era Bola de Fogo. O Bola de Fogo também era dotado das quatro patas mais ágeis de todo o planeta, e corria milhares de milhas num piscar de olhos.
     Um certo dia, o Rei teve uma ideia, “Vou mandar o Bola de Fogo à Terra dos Homens para trazer aquele sol para o nosso mundo”. E assim o fez.
    O povo já festejava a vitória do Bola de Fogo antes mesmo de ele partir em sua jornada. E assim que os preparativos foram feitos, Bola de Fogo partiu. A jornada era longa e o cão não parou sequer para descansar, e em pouco mais de dois anos, chegou ao sol.
     Bola de Fogo abriu seu enorme focinho e cravou seus dentes no sol, tentando arrancá-lo do nosso céu. Mas ele simplesmente não conseguiu suportar tal calor por muito tempo. Humilhado, retornou ao seu mundo.
    O Rei pensou, “Se o sol é quente demais para o Bola de Fogo, talvez a lua seja possível. E mandou Bola de Fogo buscar a lua. E Bola de Fogo voltou, confiante de que a lua ele conseguiria trazer, feliz em poder ajudar o povo de seu mundo.
   Quando chegou à lua, cravou seus dentes e tentou arrancá-la de nosso céu, mas a lua era fria demais e seu corpo não suportava tamanho frio. Então cuspiu a lua de volta e voltou ao seu mundo, mais uma vez, derrotado.
    Quando o Rei viu que ele havia falhado mais uma vez, ficou muito desapontado, mas não desistiu da ideia de que Bola de Fogo seria o único capaz de atingir seu objetivo.
     E Bola de Fogo continuou, vez após vez, a voltar ao sol e depois à lua, tentando levá-los ao seu mundo para alegrar seu povo e agradar ao seu Rei, mas todas as tentativas foram em vão. Aliás, até hoje, Bola de Fogo continua viajando os céus e abocanhando a lua e o sol. Hoje, ele está velho, já não é tão forte ou veloz como um dia foi, mas ele não desiste. E cada vez que Bola de Fogo crava seus dentes com seu enorme focinho no sol ou na lua, um eclipse acontece. Por poucos instantes, ele sente que sua lealdade será recompensada, mas a dor é tamanha que a preservação de sua própria vida entra em jogo. E ele sabe que sua vida é importante e a preza por saber que um dia ele conseguirá honrar o pedido de seu Rei e levar a luz ao seu tão amado povo     
        – Bola de Fogo é um verdadeiro herói.
      
                  Eclipse do Sol                                         Eclipse da Lua 

ANÔNIMO - “O GALO RECEBE UMA COROA VERMELHA” - CONTO CHINÊS

“O Galo Recebe uma      Coroa Vermelha”
ANÔNIMO
Conto Chinês
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Numa terra longínqua, no extremo oeste da China, a tribo de Miao das altas montanhas, assiste ao sol se pôr atrás das montanhas do Tibet, e enquanto as sombras se alongam pelos campos, eles se reúnem para escutar o contador de histórias que conta e reconta as lendas da tribo.
Há muito, muito tempo, quando o mundo havia acabado de ser feito, estas terras tinham seis sóis brilhando nos céus! Porém, numa certa primavera, após os fazendeiros trabalharem arduamente para fazer o plantio, as chuvas se recusaram a vir em seu tempo, e os sóis acabaram por secar toda a plantação.
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Naquela época, o grande Imperador Yao governava a China. Quando ele viu esse desastre natural, ele se entristeceu muito, e seus conselheiros disseram:
Se os seis sóis continuarem a brilhar dessa forma, nosso povo certamente morrerá.
E os seis sóis continuaram a se levantar todas as manhãs e a queimar as plantações.
Então, os dez sábios do vilarejo se reuniram para discutir o que haveria de ser feito. No meio da conversa, um dos sábios disse:
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- A única solução é atirar e matar cada um deles.
O Imperador Yao ficou sabendo sobre tal resolução e mandou seus conselheiros reunirem os melhores arqueiros da região e trazê--los ao palácio. O que foi feito. Ali se reuniram os melhores e mais fortes arqueiros de toda a China, orgulhosos em poderem servir ao grande Imperador Yao.
O povo do vilarejo e os dez sábios se reuniram para assistir à demonstração de habilidade dos arqueiros, e assim que o Imperador chegou, eles lançaram suas flechas. Mas apesar de seus arcos serem grandes e suas flechas rápidas, nenhum deles conseguiu chegar sequer à metade da distância até os seis sóis causticantes que brilhavam nos céus.
Humildemente, os arqueiros aceitaram a impossibilidade de atingir os sóis com suas flechas.                      Então, o Imperador Yao convocou o Príncipe Ho-Yi, que era conhecido como o melhor arqueiro de toda a China e propôs o desafio.
Mais uma vez, o povo se reuniu para assistir à demonstração da habilidade do arqueiro.
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O Imperador ordenou:
-   Lance as seis flechas e destrua os seis sóis para salvar o meu povo.
Naquele momento, o Príncipe Ho-Yi viu os seis sóis refletidos no lago e pensou, “Talvez eu possa destruí-los por seus reflexos, onde minhas flechas certamente alcançam”. E lançou a primeira flecha em direção ao reflexo do primeiro sol, que ao ser atingido, afundou nas águas do lago. E continuou a lançar suas flechas sobre o segundo, o terceiro, até que chegou ao quinto sol.
Quando o sexto sol se deu conta do que estava se passando, ele rapidamente desapareceu num monte ali próximo. Os dez sábios se deram por contentes que os seis sóis haviam sido destruídos, e as pessoas retornaram às suas casas.
Bahia Notícias / Justiça / Notícia / Serrinha: Homem é denunciado ...
Porém, quando as pessoas acordaram após uma longa noite de sono, não havia “dia seguinte”, pois o sexto sol ainda estava com medo e não sairia da caverna em que havia se escondido. Então, os dez sábios se reuniram novamente, na escuridão, para determinar o que poderia ser feito. Decidiram que achariam alguém que conseguisse trazer o sexto sol para fora da caverna para que pudesse haver o “dia seguinte”.
Primeiro, trouxeram o tigre para que rugisse em frente à caverna. O tigre rugiu, rugiu e rugiu, mas o sexto sol ficou enraivecido, pois de nada apreciava aquele rugido barulhento, e disse:
- Eu não vou sair!
Então levaram um boi, e o boi mugiu, mugiu e mugiu, mas agora, além de irritado, o sol começou a ficar deprimido com o mugido do boi, e disse:
- Eu não vou sair, e essa é a minha palavra final!
E também foram levados o carneiro, o macaco, o cão e o porco, mas todo o esforço parecia piorar a situação.
Por fim, decidiram levar um belo e forte galo para que cacarejasse. Quando o galo cantou, o sol disse:
- Mas que som adorável!
Sonhos Significado: sonhar com Galo
E saiu da caverna para ver que animal magnífico poderia produzir tal música para seus ouvidos. E ao sair, o sol brilhou mais uma vez, e as pessoas festejavam ao ver que o sol finalmente estava de volta ao horizonte.
O sol ficou tão lisonjeado com o canto do galo que ele mesmo confeccionou uma coroa vermelha para que ficasse ainda mais magnífico e majestoso.
E todas as manhãs, a partir daquele dia, o galo tem usado sua coroa vermelha para dar as boas vindas ao dia seguinte, cantando, e para que o sol se alegre e perca o medo de brilhar nas alturas mais uma vez.



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sábado, 14 de março de 2015

VERÍSSIMO, LUIS FERNANDO - A BOLA

A bola

  • VERÍSSIMO, LUIS FERNANDO.
  • A BOLA.
  • COMÉDIAS DA VIDA PRIVADA;
  • .PORTO ALEGRE: L&PM,
  • 1996. P. 96-7 


     O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro. Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola.
     O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse “ legal! “. Ou os que os garotos dizem hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho. Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa.
    - Como é que me liga?- Perguntou.
    - Como, como é que liga? Não se liga.
    O garoto procurou dentro do papel de embrulho.
    - Não tem nenhuma instrução?
   O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos decididamente outros.
  - Não precisa manual de instrução.
  - O que é que ela faz?
  - Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela.
  - O que?
  - Controla, chuta...
  - Ah, então é uma bola?
  - Claro que é uma bola.
  - Uma bola, bola. Uma bola mesmo.
  - Você pensou que fosse o quê?
  - Nada, não.
 O garotinho agradeceu, disse “ Legal! “, de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê, com a bola nova do lado, manejando os controles de um videogame. Algo chamado MONSTER BALL, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de blip eletrônico na tela ao mesmo tempo que tentava se destruir mutuamente. O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando da máquina.
 O pai pegou a bola nova ensaiou algumas embaixadinhas. Conseguiu equilibrar a bola no peito do pé, como antigamente, e chamou o garoto.
 - Filho, olha.
 O garoto disse “ legal “, mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as mãos e a cheirou, tentando recuperar mentalmente o cheiro do couro. A bola cheirava a nada. Talvez um manual de instrução fosse uma boia ideia, pensou. Mas em inglês, para a garotada se interessar.

ffim

sábado, 7 de março de 2015

VERÍSSIMO, LUIS FERNANDO - O ATOR

O ATOR
Veríssimo, Luis Fernando.
Comédias da vida privada: crônicas escolhidas.
 19. Ed.
 Porto Alegre: L&PM,
 1996. P. 194-95.
Serviço secreto não descobre nome verdadeiro de Charles Chaplin ...
O Homem chega em casa, abre a porta e é recebido pela mulher e os filhos, alegremente. Distribui beijos entre todos, pergunta o que há para jantar e dirige-se para o seu quarto. Vai tomar banho, trocar de roupa e preparar-se para algumas horas de sossego na frente da televisão antes de dormir.
Quando está abrindo a porta do seu quarto ouve uma voz que grita:
- Corta!
O homem olha em volta, atônito. Descobre que sua casa não é sua casa, é um cenário. Vem alguém e tira o jornal e a pasta das suas mãos. Uma mulher vem ver se a sua maquiagem está bem e põe um pouco de pó em seu nariz. Aproxima-se um homem com um script na mão dizendo que ele errou uma das falas na hora de beijar as crianças.
- O que é isso? – pergunta o homem. – Quem são vocês? O que estão fazendo dentro da minha casa? Que luzes são essas?
- O quê, enlouqueceu? – pergunta o diretor.
– Vamos ter que repetir a cena. Eu sei que você está cansado, mas...
Estou cansado, sim senhor. Quero tomar meu banho e botar meu pijama. Saiam da minha casa. Não sei quem são vocês, mas saiam todos! Saiam!
O diretor fica de boca aberta. Toda a equipe fica em silêncio, olhando para o ator. Finalmente o diretor levanta a mão e diz:
- Tudo bem, pessoal. Deve ser estafa. Vamos parar um pouquinho e ...
- Estafa coisa nenhuma! Estou na minha casa, com a minha... A minha família! O que vocês fizeram com ela? Minha mulher! Os meus filhos! O homem sai correndo entre os fios e os refletores, à procura da família.
Charlie Chaplin - Wikipedia
O diretor e um assistente tentam segurá-lo. E, então, ouve-se uma voz que grita:
- Corta! Aproxima-se outro homem com um script na mão. O homem descobre que o cenário, na verdade, é um cenário.
O homem com um script na mão diz:
- Está bom, mas acho que você precisa ser mais convincente.
- Quê!? - quem é você?
- Como, quem sou eu? Eu sou o diretor. Vamos refazer esta cena. Você tem que transmitir melhor o desespero do personagem. Ele chega em casa e descobre que sua casa não é uma casa, é um cenário. Descobre que está no meio de um filme. Não entende nada.
- Não entendo... - Fica desconcertado. Não sabe se enlouqueceu ou não.
- Eu devo estar louco. Isto não pode estar acontecendo. Onde está minha mulher? Os meus filhos? A minha casa?
- Assim está melhor. Mas espere até começarmos a rodar. Volte para sua marca. Atenção, lues...
- Mas que marca? Eu não sou personagem nenhum. Eu sou eu! Ninguém me dirige. Eu estou na minha própria casa, dizendo as minhas próprias falas...
- Boa, boa. Você está fugindo um pouco do script, mas está bom.
- Que script? Não tem script nenhum. Eu digo o que quiser. Isto não é filme. E mais, se é um filme, é uma porcaria de filme. Isto é simbolismo ultrapassado. Essa de que o mundo é um palco, que tudo foi predeterminado, que não somos mais do que atores... Porcaria!
- Boa, boa. Está convincente. Mas espere começar a filmar. Atenção...
O homem agarra o diretor pela frente da camisa.
- Você não vai filmar nada! Está ouvindo? Nada! Saia da minha casa.
O diretor tenta livrar-se. Os dois rolam pelo chão. Nisto ouve-se uma voz que grita:
- Corta! 
Adesivo Decorativo de Parede Frase Pensamos Charles Chaplin no ...

VERÍSSIMO, LUÍS FERNANDO - PEÇA INFANTIL

Peça Infantil

Veríssimo, Luís Fernando.
 Festa de criança.
 Para Gostar de Ler Júnior.
 São Paulo: Ática

Resultado de imagem para peça infantil com crianças

A professora começa a se arrepender de ter concordado (“Você é a única que tem temperamento para isto”) em dirigir a peça quando uma das fadinhas anuncia que precisa fazer xixi. É como um sinal. Todas as fadinhas decidem que precisam, urgentemente, fazer xixi.
- Está bem, mas só as fadinhas – diz a professora. – E uma de cada vez!
Mas as fadinhas vão em bando para o banheiro.
- Uma de cada vez! Uma de cada vez! E você, onde é que pensa que vai?
- Ao banheiro.
- Não vai não.
- Mas tia!
- Em primeiro lugar, o banheiro já está cheio. Em segundo lugar, você não é fadinha, é caçador. Volte para o seu lugar.
Um pirata chega atrasado e com a notícia de que sua mãe não conseguiu terminar a capa.
Resultado de imagem para peça infantil com crianças coelhos piratas fadas e margaridas- Serve a toalha?
– Não! Você vai ser o único de capa branca. É melhor tirar o tapa-olho e ficar de anão. Vai ser um pouco engraçado, oito anões, mas tudo bem.
-  Porque você está chorando?
- Eu não quero ser anão.
- Então fica de lavrador.
- Posso ficar com o tapa-olho?
- Pode. Um lavrador de tapa-olho. Tudo bem.
- Tia, onde é que eu fico? É uma margarida.
- Você fica ali. A professora se dá conta de que as margaridas estão desorganizadas.
- Atenção, margaridas! Todas ali. Você não. Você é coelhinho.
- Mas o meu nome é margarida.
- Não interessa!
Desculpe, a tia não quis gritar com você.
- Atenção, coelhinhos! Todos comigo. Margaridas ali, coelhinhos aqui. Lavradores daquele lado, árvores atrás.
- Árvore, tira o dedo do nariz! Onde é que estão as fadinhas? Que xixi mais demorado.
- Eu vou chamar.
- Fique onde está, lavrador. Uma das margaridas vai chamá-las.
Resultado de imagem para peça infantil com crianças coelhos fadas e margaridas- Já vou.
- Você não, Margarida! Você é coelhinho. Uma das margaridas.
- Você! Vá chamar as fadinhas.
- Piratas, fiquem quietos.
- Tia, o que é que eu sou? Eu esqueci o que eu sou.
- Você é o sol. Fica ali que depois a tia...
- Piratas, por favor!
As fadinhas começaram a voltar. Com problemas. Muitas se enredaram nos seus véus e não conseguem arrumá-los. Ajudam-se mutuamente, mas no seu nervosismo só pioraram a confusão.
- Borboletas, ajudem aqui – pede a professora.
Resultado de imagem para peça infantil com crianças coelhos fadas e margaridasMas as borboletas não ouvem. As borboletas estão etéreas. As borboletas fazem poses, fazem esvoaçar seus próprios véus não ligam para o mundo.
A professora, com a ajuda de um coelhinho amigo, de uma árvore e de um camponês, desembaraça os véus das fadinhas.
- Piratas, parem! O próximo que der um pontapé vai ser anão.
Desastre: quebrou uma ponta da lua.
- Como é que você conseguiu fazer isso? – perguntou a professora sorrindo, sentindo que o seu sorriso deve parecer demente.
- Foi ela! A acusada é uma camponesa gorda que gosta de distribuir tapas entre os seus inferiores.
- Não tem remédio. Tira isso da cabeça e fica com os anões.
- E a minha Frase?
A professora tinha esquecido. A Lua tem uma fala.
- Quem diz a frase da Lua é, deixa eu ver... O relógio.
- Quem?
- O relógio. Cadê o relógio?
- Ele não veio.
- O quê?
- Está com caxumba.
- Ai, meu Deus! Sol, você vai ter que falar pela Lua. Sol, está me ouvindo?
- Eu?
- Você, sim senhor. Você sabe a fala da Lua?
- Me deu uma dor de barriga.
- Essa não é frase da Lua.
- Me deu mesmo, tia. Tenho que ir embora.
- Está bem, está bem. Quem diz a frase da Lua é você.
- Mas eu sou caçador.
- Eu sei que você é caçador! Mas diz a frase da Lua! E não quero discussão!
- Mas eu não sei a frase da Lua.
- Piratas, parem!
- Piratas, parem. Certo.
- Eu não estava falando com você. Piratas, de uma vez por todas...
A camponesa gorda resolve tomar a justiça nas mãos e dá um croque num pirata. A classe é unida e avança contra a camponesa, que recua, derrubando uma árvore. As borboletas esvoaçam. Os coelhinhos estão em polvorosa.
A professora grita:
 - Parem! Parem! A cortina vai abrir. Todos a seus lugares. Vai começar!
- Mas, tia, e a frase da Lua?
- “Boa noite, Sol”.
- Boa noite.
- Eu não estou falando com você!
- Eu não sou mais o Sol?
- É. Mas eu estava dizendo a frase da Lua. “Boa noite, Sol.”
- Boa noite, Sol. Boa noite, Sol. Não vou esquecer. Boa noite, Sol...
- Atenção, todo mundo! Piratas e anões nos bastidores. Quem fizer um barulho antes de entrar em cena, eu esgoelo. Coelhinhos nos seus lugares. Árvores, para trás. Fadinhas, aqui. Borboletas esperem a deixa. Margaridas, no chão. Todos se preparam. Você não, Margarida! Você é coelhinho!
      Abre o pano