“O Porco que Era Esperto Demais”
ANÔNIMO
Conto Chinês
Conto Chinês
Era
uma vez, muito tempo atrás, vivia na vila de Tsan-yang um senhor chamado Li.
Todos o chamavam de Li Tai-yeh, ou Grande Mestre, pois ele era o homem mais
rico da região. Sua fazenda era gigantesca e sua casa tinha cem aposentos e um
enorme jardim. Ninguém tinha a mínima inveja dele, pois Li Tai-yeh, diferente
da maioria das pessoas ricas, era muito generoso com sua riqueza. Seu amor por
animais era bem conhecido na redondeza e os animais devolviam todo aquele amor
a ele.
Com
o tempo, Li Tai-yeh passou a ter um grande número de animais e muitos tipos
deles em sua fazenda. Alguns foram comprados de mercadores, mas a maioria
passava por sua fazenda e por serem bem alimentados acabavam ficando. Li
Tai-yeh nunca pediu nada em retorno, ele simplesmente cuidava dos animais por
amor. Mas acontece que instintivamente, os animais sentiam a necessidade de
ajudá-lo em tudo o que pudessem.
O
cão negro ficava de guarda e protegia a fazenda de qualquer estranho que se
aproximasse. O grande galo sempre acordava os trabalhadores pela manhã, fizesse
sol ou chuva, ele estava lá pontual cumprindo seu dever. O gato-do-mato, que
tinha listras amarelas e pretas, era chamado de Pequeno Tigre. Ele tinha uma
alma independente e passava o dia passeando pela fazenda, mas à noite, ele
protegia a casa dos ratos. O cavalo levava o filho de Li para a escola, o boi
puxava a carroça e o carneiro retirava o capim que crescia entre as
plantações de arroz. Todos eles ajudavam com muita dedicação e ficavam
contentes em poder retribuir os bons cuidados de Li. Quer dizer, todos, com
exceção do porco.
Este
porco era um animal esperto chamado Chu Lao-erh. Ele observava o que acontecia
ao seu redor e pensava, “Já que todos estão trabalhando menos eu e o mestre
continua a me alimentar, por que eu deveria trabalhar? Ele não me pede
para fazer nada, então eu vou mesmo é continuar comendo e descansando.”
Então,
Chu Lao-erh comia o dia todo, rolava na lama e ficava imundo e fedorento para
que nenhum animal ousasse se aproximar dele. Todos os dias, ele dormia até o
meio-dia, bem a hora do seu imenso almoço. Comia até não poder mais e cochilava
até a hora do jantar. E após o jantar, dormia até o dia seguinte.
Vez
ou outra, algum animal se aproximava dele e dizia:
¾ Por
que você não se levanta e faz algo de útil? Você deveria perder
peso, você está muito gordo.
Mas
Chu Lao-erh fingia que não estava entendendo o que estavam dizendo e ficava sem
responder. Ele gemia, virava para o outro lado e dormia de novo.
Como
resultado, Chu Lao-erh ficou tão gordo, mas tão gordo que, mesmo se quisesse
trabalhar, não conseguiria. Às vezes, até para comer se sentia cansado. Começou
a reclamar que sua comida não era bem preparada, não chegava na hora certa.
Como se sabe, reclamações sempre trazem algum resultado.
As
pessoas da fazenda passaram a achar que o porco não estava se sentindo bem por
causa da comida e começaram a preparar melhores alimentos para ele. Mas
enquanto isso, o vizinho de Li visitou a fazenda e viu o porco. E disse a Li:
¾ Este
porco não faz nada para você! Ele é completamente inútil! Eu troco oito patos
com você por este porco. Pelo menos os patos te darão ovos.
Li
ficou triste, pois sabia que a família de seu vizinho era muito pobre e não
conseguiria dar ao seu porco o mesmo tipo de alimentação. Mas entregou o porco
ao vizinho.
Seu
vizinho amarrou Chu Lao-erh e com ajuda de mais duas pessoas, levou-o ao
mercado. Era inverno e as pessoas pagavam muito pela gordura do porco, e Chu
Lao-erh rendeu-lhe muito dinheiro para cuidar de sua família.
“Tsung-ming
pei tsung-ming wu”, ou, “Os espertos geralmente caem nas armadilhas de sua
própria esperteza”.