A MULHER CURIOSA E MÁ
conto popular com animais falantes
FONTE:BIBLIOTECA-HISTÓRIAS-FOLCLORE
Era uma vez um homem que recebeu de Deus o dom de entender
as falas dos animais.
Estava passeando pelo mato com a sua mulher.
De vez em quando ele dava risada. A mulher
perguntava por quê. Ele dizia: -À toa!
Mas ela foi ficando curiosa. Tanto o apertou que
ele confessou que estava escutando as vozes dos pássaros. Daí a pouco estavam
dois cavalos conversando. Um dizia assim:
- Opa! Hoje trabalhei, trabalhei e não comi quase
nada. O outro retrucava:
- Fui feliz, estou com a barrica cheia. O homem deu
risada. A mulher quis saber por quê? E o que é que os cavalos estavam falando
O marido respondeu-lhe:
- Ah! Isso não conto, se contar morro.
Daí então, até chegarem a casa e muitos dias
seguidos, ela importunava o marido. Que tinha de lhe contar. Não adiantava e3le
dizer que seria a morte. E ela repetia:
-Não tem que nada! Quero saber!
Teimou, teimou, até que o marido não aguentou mais
e resolveu falar. Mandou o camarada buscar um caixão de defunto e o pôs no meio
da sala. Dizia para a mulher:
- Você não me estima, sabe que vou morrer e está me amolando para eu lhe contar a conversa dos cavalos. Nisso o galo veio do quintal, trepou no caixão, bateu as asas e cantou. O cachorro veio da cozinha e repreendeu o galo:
- Mas, sim senhor! Não vê que o nosso dono vai morrer e você alegre, cantando!

- Você não me estima, sabe que vou morrer e está me amolando para eu lhe contar a conversa dos cavalos. Nisso o galo veio do quintal, trepou no caixão, bateu as asas e cantou. O cachorro veio da cozinha e repreendeu o galo:
- Mas, sim senhor! Não vê que o nosso dono vai morrer e você alegre, cantando!
O galo retrucou:
- Que me importa? Ele vai morrer porque quer.
- Porque quer, não senhor! Disse o cachorro. Não vê
que a mulher não deixa de importuná-lo?
- Ah! Se fosse comigo!... Disse o galo. Tenho vinte
mulheres por minha conta no terreiro. É só alguma querer abusar um pouco, que
já vou de espora e ensino!
Então o homem chamou o camarada e disse:
- Vá por aí e troque o caixão por um chicote. O
camarada obedeceu. O homem pôs o chicote atrás das costas e foi-se aproximando
da mulher:
- Ainda quer saber a prosa dos cavalos?
- Quero, sim!
O homem segurou-a com a mão esquerda e
com a direita desceu-lhe o chicote sem ligar para os seus gritos.
- Ainda quer saber o que os cavalos
falaram?
- Não, não quero saber de nada, gemeu a
mulher. Desde então, ficou boazinha e mansa.
HÁBITOS MEDIEVAIS
NOTA:
PROCEDÊNCIA: SOROCABA E IPANEMA
ALUÍSIO
DE ALMEIDA – Revista do Arquivo Municipal n. CXLIV, 1951 – PÁGS. 188-189
Fonte:
HISTÓRIAS E LENDAS DE SÃO PAULO, PARANÁ E SANTA CATARINA. TOMO I, SELEÇ ÃO DE
ALCEU MAYNARD ARAÚJO E VASCO JOSÉ TABORDA. DESENHOS DE J. LANZELOTTI. ED.
LITERAT. 1962
0 comentários:
Postar um comentário