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terça-feira, 23 de setembro de 2014

DIVERSOS AUTORES - A SAÚDE E O HUMOR -

A SAÚDE E O HUMOR
DIVERSOS AUTORES
       Os humoristas não perdem a oportunidade de falar mal daqueles que cuidam (ou deveriam cuidar) de sua saúde. Os livros mostram que, em todas as oportunidades, os médicos, dentistas e outros profissionais da área de saúde são alvo da pena afiada daqueles que sofrem para nos fazer rir. Aqui vão alguns exemplos:

1 - João Salomão Queiroga (+ 1878)

Pagam médicos na China
Só quando eles curam lá.
Sofrerão fome canina
Se tal moda pegar cá.

Seria eterna a velhice
Cessaria a mortandade
Se a nossa lei abolisse
O médico e seu confrade.
Do infeliz genero humano,
O demo, sempre contrário,
Inventou para seu dano
O médico e o boticário...


2 - Correia de Almeida (+ 1905)

— Certo Doutor de capêlo
tem lindissimos cavalos,
e, para dar lustro ao pelo
vai em pessoa escová-los.
Já não pode ignorar tudo
quem se aplica a tal estudo...

3 - Laurindo Rabelo (+ 1864)

Dizem que a Morte e Maurício
Andaram na mesma escola;
A Morte mata somente...
O Maurício mata e esfola.
(visava a José Maurício N. Garcia, médico e professor de anatomia)

4 - Lacerda Coutinho (+ 1900)

Douto cirurgião d'aldeia
foi, uma feita, chamado
a socorrer um doente
distante do povoado
Para disfarçar o tédio
dos estirados caminhos,
ia armado de espingarda,
à caça de passarinhos.
À meia jornada, encontra
velho campônio da terra.
— Senhor Doutor! Com licença...
Onde vai armado em guerra?
— Ver um doente.
— Deveras? munido vai de escopeta?
Receia, então, que lhe escape
à pena, mais à lanceta?

5 - Roberto Correia (+ 1937)

De muitos "doutores" sei
Que fundamente acatamos,
Aos quais, se dizem: — "cheguei",
Retruca a Morte: — "chegamos".

É "doutor", mas a vaidade
empina-o tanto, que até
quisera eu ser a metade
do que ele pensa que é...

6 - Antonio Sales (+ 1940)

— Vi um médico fardado...
Que perfeito matador:
quem escape do soldado,
não escapa do doutor...

— A medicina exercendo,
por longos anos viveu;
mas um dia, adoecendo,
e não querendo
um dos colegas chamar,
quis de si mesmo tratar...
E em poucos dias morreu.

7 - Bocage (+ 1805)

Um velho caiu na cama:
tinha um filho Esculapino (*)
que para adivinhações
campava (**) de ter bom tino.
O pulso paterno apalpa,
e receitar depois vai.
Diz-lhe o velho, suspirando:
— "Repara que sou teu pai!".

(*) diminutivo de esculápio, médico)
(**) jactar-se, gabar-se.


Lavrou chibante(*) receita
um doutor com todo esmero,
a uma moça, que passava,
que ficou são como um pêro.
— "Tão cedo! é milagre" (assenta
a mãe, que de gosto chora).
— "Minha mãe, não é milagre:
deitei o remédio fora."

(*) presunçoso, arrogante.


Arrumado às duas portas
pingue(*) boticário estava,
e brandamente acenou
a um doutor que passava.
Mal que chega o bom Galeano,
diz o outro em ar jocundo:
"Unamo-nos, meu doutor,
e demos cabo do mundo."

(*) gordo.


Textos extraídos dos livros "
Antologia de Humorismo e Sátira", Ed.Civilização Brasileira - Rio de Janeiro, 1957, págs. diversas, uma seleção de R. Magalhães Júnior, e "Humor e Humorismo - Paródias", Editora Brasiliense - Rio de Janeiro, 1961, págs. diversas, uma seleção de Idel Becker.

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