A ROMÃZEIRA DO MACACO
FOLCLORE DE PORTUGAL
ADOLFO COELHO
Era uma vez um macaco que estava em cima de
uma oliveira a comer uma romã; sucedeu que caiu um grão da romã para a terra em
que estava a oliveira e passado pouco tempo nasceu uma romãzeira.
Quando o macaco viu a romãzeira nascida,
foi ter com o dono da oliveira e disse-lhe: — «Arranca a tua oliveira para
crescer a minha romãzeira. «Responde o homem: — «Não estou para isso!»
Foi-se o macaco à justiça e disse-lhe: —
«Justiça, prende o homem para que arranque a oliveira, para crescer a minha romãzeira.»
Responde a justiça: — «Não estou para isso!»
Foi-se o macaco falar com o rei e
disse-lhe: — «Rei, tira a vara à justiça, para ela prender o homem, para ele
arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira.» Responde o rei: — «Não
estou para isso!»
Foi o macaco ter com a rainha: — «Rainha,
põe-te mal com o rei, para ele tirar a vara à justiça, etc.» Responde a rainha:
— «Não estou para isso!»
Foi procurar o rato: — «Rato, rói as
fraldas à rainha para ela se pôr de mal com o rei, etc. «Responde o rato: —
«Não estou para isso!»
Foi atrás do gato: — «Ó gato! Come o rato,
para ele roer as fraldas à rainha, etc. «Responde o gato: — «Não estou para
isso!»
Foi ter com o cão: — «Ó cão! Morde o gato,
para ele comer o rato, etc. «Responde o cão: — «Não estou para isso!» Foi ao pau
e disse-lhe: — «Pau, bate no cão, para o cão morder o gato, etc.» — «Não estou
para isso!»
Foi ter com o lume: — «Lume, queima o pau,
para ele bater no cão, etc.» — «Não estou para isso!»
Foi ter com a água: — «Ó água! Apaga o lume
para ele queimar o pau, etc.» — «Não estou para isso!»
Foi ao boi: — «Ó boi! Bebe a água para ela
apagar o lume, etc.» — «Não estou para isso!»
Foi ao carniceiro: — «Carniceiro, mata o
boi para ele beber a água, etc. — «Não estou para isso!»
Foi ter com a morte: — «Ó morte, leva o
carniceiro, para ele matar o boi, etc. — «A morte ia para levar o carniceiro e
ele disse-lhe: — «Não me leves que eu mato o boi! »
- Disse o boi: — «Não me mates que eu bebo
a água.»
- Disse a água: — «Não me bebas que eu
apago o lume.»
- Disse o lume: — «Não m’ apagues que eu
queimo o pau.»
- Disse o pau: — «Não me queimes que eu
bato no cão.»
- Disse o cão: — «Não me batas que eu mordo
o gato.»
- Disse o gato.«: — «Não me mordas que eu
como o rato.»
- Disse o rato: — «Não me comas que eu rôo
as fraldas à rainha.»
- Disse a rainha: «Não me roas as fraldas
que eu ponho-me de mal com o rei.»
- Disse o rei: — «Não te ponhas mal comigo
que eu tiro a vara á justiça.»
- Disse a justiça: — «Rei, não me tires a
vara que prendo o homem.»
- Disse o homem: — «Justiça, não me prendas
que eu arranco a oliveira.»
E o homem arrancou a oliveira e o macaco
ficou com a sua romãzeira.
(Coimbra)
ROMÃZEIRA