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segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

COELHO, ADOLFO(FOLCLORE DE PORTUGAL ) - I - HISTÓRIA DA CAROCHINHA


I - HISTÓRIA DA CAROCHINHA
FOLCLORE DE PORTUGAL 

ADOLFO COELHO
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Era uma vez uma carochinha que andava a varrer a casa e achou cinco reis e foi logo ter com uma vizinha e perguntou-lhe: “Oh vizinha, que hei- -de eu fazer a estes cinco reis?” Respondeu-lhe a vizinha: «Compra doces.» — «Nada, nada, que é lambarice.» «Foi ter com outra  vizinha e ela  disse--lhe o mesmo»; depois foi ainda ter com outra que lhe disse: «Compra fitas, flores, braceletes e brincos e vai-te pôr á janela» e diz:

Quem quer casar com a carochinha
Que é bonita e perfeitinha?

Foi a carochinha comprar muitas fitas, rendas, flores, braceletes d’ouro e brincos; enfeitou--se muito enfeitada e foi-se pôr à janela, dizendo:

«Quem quer casar com a carochinha
Que é bonita e perfeitinha?»

Passou um boi e disse: «Quero eu!.» «Como é a tua fala?» «Mú, mú…» «Nada, nada não me serves que me acordas os meninos de noite.» Depois tornou outra vez a dizer:

«Quem quer casar com a carochinha
Que é bonita e perfeitinha?»

Passou um burro e disse: «Quero eu!.» «Como é a tua fala?» «Hin ón… hin ón…» «Nada, nada não me serves, que me acordas os meninos de noite.» Depois passou um porco e a carochinha disse-lhe: «Deixa-me ouvir a tua fala.» «Onc, onc, onc.» «Nada, nada não me serves, que me acordas os meninos de noite.» Passou um cão e a carochinha disse-lhe: «Deixa-me ouvir a tua fala.» «Au, Au.» «Nada, nada não me serves, que me acordas os meninos de noite.» «Passou um gato. «Como é a tua fala?» «Miau, miau.» Nada, nada, não me serves, que me acordas os meninos de noite.» Passou um ratinho e disse: «Quero eu!.» «Como é a tua fala?» «Chi, chi, chi.» «Tu sim, tu sim; quero casar contigo,» disse a carochinha. Então o ratinho casou com a carochinha e ficou-se chamando o João Ratão. 
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Viveram alguns dias muito felizes, mas tendo chegado o domingo, a carochinha disse ao João Ratão que ficasse ele a tomar conta da panela que estava ao lume a cozer uns feijões para o jantar. O João Ratão foi para junto do lume e para ver se os feijões já estavam cozidos meteu a patinha na panela e a ela ficou-lhe lá; meteu a outra; também lá ficou; meteu-lhe um pé; sucedeu--lhe o mesmo, e assim em seguida foi caindo todo na panela e cozeu-se com os feijões. 
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Voltou a carochinha da missa e como não visse o João Ratão, procurou-o por todos os buracos e não o encontrou e disse para consigo. «Ele virá quando quiser e deixa-me ir comer os meus feijões.» Mas ao deitar os feijões no prato encontrou o João Ratão morto e cozido com eles. Então a carochinha começou a chorar em altos gritos e uma tripeça que ela tinha em casa perguntou-lhe:

«Que tens, carochinha,
Que estás aí a chorar?»
«Morreu o João Ratão
E por isso estou a chorar»
«E eu que sou tripeça
Ponho-me a dançar.»
Diz d’ali uma porta:
«Que tens tu, tripeça,
Que estás a dançar?»
«Morreu o João Ratão,
Carochinha está a chorar,
E eu que sou tripeça
Pus-me a dançar.»
«E eu que sou porta
Ponho-me a abrir e a fechar.»
Diz d’ali uma trave:
«Que tens tu, porta,
Que estás a abrir e a fechar?
«Morreu o João Ratão,
Carochinha está a chorar,
A tripeça está a dançar,
E eu que sou porta
Pus-me a abrir e a fechar.»
«E eu que sou trave
Quebro-me.»
Diz d’ali um pinheiro:
«Que tens, trave,
Que te quebraste?»
«Morreu o João Ratão,
Carochinha está a chorar,
A tripeça está a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
E eu quebrei-me.»
«E eu que sou pinheiro
Arranco-me.»

Vieram os passarinhos para descansar no pinheiro e viram-n’o arrancado e disseram:

«Que tens, pinheiro,
Que estás no chão?»
«Morreu o João Ratão,
Carochinha está a chorar,
A tripeça está a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se,
E eu arranquei-me.»
«E nós que somos passarinhos
Vamos tirar os nossos olhinhos.

Os passarinhos tiraram os olhinhos, e depois foram à fonte beber água. E diz-lhe a fonte:

«Porque foi passarinhos,
Que tirastes os olhinhos?»
«Morreu o João Ratão,
A carochinha está a chorar,
A tripeça está a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se,
O pinheiro arrancou-se,
E nós, passarinhos,
Tirámos os olhinhos»
«E eu que sou fonte
Seco-me.»

Vieram os meninos do rei com os seus cantarinhos para levarem água da fonte e acharam-na seca e disseram:

«Que tens, fonte,
Que secaste?
«Morreu o João Ratão,
A carochinha está a chorar,
A tripeça a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se,
O pinheiro arrancou-se,
Os passarinhos tiraram os olhinhos,
E eu sequei-me.»
«E nós quebramos os cantarinhos.»

Foram os meninos para palácio e a rainha perguntou-lhes:

«Que tendes, meninos,
Que quebrastes os cantarinhos?»
«Morreu o João Ratão,
A carochinha está a chorar,
A tripeça a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se,
O pinheiro arrancou-se,
Os passarinhos tiraram os olhinhos,
A fonte secou-se,
E nós quebramos os cantarinhos.»
«Pois eu que sou rainha
Andarei em fralda pela cozinha.»
Diz d’ali o rei:
«E eu vou arrastar o c…
Pelas brasas.»

                                                             (Coimbra.)
E assim foi a história do João Ratão 
cozido e assado no caldeirão
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2 comentários:

  1. E assim se instalou o caos. Uma distopia parecisa com a que estamos vivendo.

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  2. OLÁ ENTÃO TU ME VISITASTE?! QUE BOM FICO FELIZ, OBRIGADO.

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