A SOLIDÃO! OU AS SOLIDÕES?
ADELAIDE M.G.ABREU DOS SANTOS
A
solidão palavra bonita, retumbante, sonora parece algo aprazível... Pode ser!
Mas é também escura como breu, um manto escuro e pesado, que te envolve e te
asfixia.
Ela
não é uma, é muitas... E sempre que quer, a seu bel prazer, aparece e se cola
em ti. Hoje vejo que é uma parceira... hum! Não diria, mas uma companheira
constante na vida, nem sempre agradável. Às vezes pode ser uma válvula de
escape, mas na maioria das vezes é uma megera, ou uma carrasca, que te condena
ao isolamento, por timidez, por divergência de preceitos é a que chamamos de “antes
só que mal acompanhado”.
Sentimos
solidões nas diversas fases da vida. A primeira talvez, ainda quando somos bebês
e estamos ali à espera da mamã, pois acordamos e estamos sós! Será que ela foi
embora, ou vai voltar? Para nos acarinhar, limpar, alimentar e ninar-nos de
novo? Ou quando sentimos uma dor essa coisa estranha que não sabemos o que é,
ou estamos com fome e estamos sós no berço ou na caminha, não importa onde, só
importa que a chamamos através de nossos lamentos e ao não sermos atendidos,
lançamos mão do único recurso de que dispomos, os berros e quando ela chega e
nos abraça, soluçamos e vamo-nos tranqüilizando, porque a solidão com vergonha
vai embora e nós felizes sorrimos, dizemos um gugu dada, pois estamos seguros
nos braços daquela que adoramos, tão quentinhos e reconfortantes são seus
braços, mas infelizmente nem todos têm esses braços, pois há aqueles que ao
nascer a perderam, há também um tipo de mãe, credo” omissa e por isso nunca
encontrarão o porto seguro, que consegue afastar essa inimiga horrorosa.
Depois
crescemos e surgem novas solidões, a amiga e a egoísta. A amiga é aquela que se
procura, queremos ficar sós e nos isolamos, pois nos sentimos melhor e mais
seguros no seu regaço. A esta, atribuímos a qualidade de amiga, mas ela é
perigosa e pode nos prejudicar, impedindo-nos de ter laços de amizade, criando
assim um refúgio, mas a amizade é-nos muito cara, pois com nossos amigos
podemos brincar, cantar, rir e chorar e eles nos apóiam, são solidários e nos
acolhem, quando mais precisamos de um abraço, ou uma palavra amiga. Nesta fase
somos inocentes, ainda não há a concorrência e por isso podemos confiar neles.
As rusgas são apenas rusgas! Pequenas divergências, que não deixam cicatrizes e
o calor desses ou desse amiguinho pode mitigar a solidão, afastando-a de nós.
Desenvolvemo-nos
mais e ela cola em nós, sofremos muito, pois sentimo-nos rejeitados, ou apenas
isolados, excluídos e não sabemos porquê?, o que fizemos?, por que ninguém nos
ama? Essas são as nossas indagações, o que podemos fazer? Não temos respostas e
quando alguém nos estende as mãos, ficamos maravilhados! [E a hora do perigo, a
escolha desse amigo pode ser acertada, ou fatal. Pode ser alguém que realmente
deseja te apoiar e te sirva de apoio como uma muleta temporária, para ajudar na
transição desse período de escuridão, pode ser a mãe, o pai, um irmão ou outro
parente, pode até ser um livro, a música ou um filme, mas cuidado com aqueles
que se mostram amigos desinteressados e que vêm cheios de ofertas maravilhosas
de um mundo mágico, pois pode estar carregado de más intenções e apenas tem o
desejo de te destruir, pois não deseja rivais, teme a tua concorrência e vê em
ti um oponente, portanto procurará te eliminar, usufruindo da tua fragilidade momentânea,
visará o próprio lucro sobre a tua fraqueza, valendo-se da tua solidão. Esse é
aquele que te oferece uma opção de felicidade fácil: as drogas, a prostituição
e tantas outras formas de aviltamento do ser humano. Cuidado com os que querem
se aproveitar do teu desamparo e abusam de ti valendo-se da tua incapacidade
temporária, por pensares que não tens apoio, pois não confias em ninguém, por
estares totalmente envolta na solidão, tornas-te uma vítima fácil e te
mergulham na mais abjeta solidão.
Agora
crescemos mais, vamos à luta, em busca de trabalho. Nesse meio nos deparamos
com um monte de amigos, cuidado! Infelizmente a maioria é oportunista e quer
usar-te como trampolim. Assevera-te de que realmente o são, pois não é fácil
separar o joio do trigo. Existem os que realmente têm carência de uma amizade
sincera, mas a grande maioria quer te conhecer para te derrubar, pois deseja
brilhar sozinho e por isso cria armadilhas no teu dia a dia, faz intrigas para
denegrir a tua imagem, usa-te como escada para a própria progressão, isto não é
nada. O pior é o que sentes, pois não sabes por que é que as coisas estão dando
errado, conversas com teu amigo que parece não te entender e voltas à solidão e
à escuridão, ao isolamento, pois percebes que não podes e não deves confiar e
não é fácil descobrir em quem se pode confiar, pois de repente és apunhalado
pelo que julgavas teu amigo, que te entrega usando uma confidencia que lhe
fizeste. É triste, é desolador, é desesperador, mas é real! Também podes sentir
a solidão dos teus preceitos, dos teus pontos de vista. Nas reuniões ninguém
acolheo que dizes, ninguém concorda, às vezes te ignoram, falas com as paredes,
outras te dispensam, às vezes te reduzem a zero, como se não fosses nada e só
falasses idiotices e as tuas sugestões fossem blá blá blá. Recolhes-te à
solidão e dali não sais mais em todas as reuniões, não porque não queiras, mas
sabes que é inútil. O pior é perceber que se apropriam das tuas idéias criticadas
como se delas fossem. Esta solidão à qual te recolhes, te é benfazeja, mas te
deixa com um sentimento de desilusão...Vêmo-los, fazerem propostas e
conjecturas, diagnosticamos a fragilidade e equívocos, mas sabemos, que ainda
que abramos a boca, sequer seremos ouvidos, por isso nos calamos. Ainda que vez
por outra sejamos teimosos e invistamos de novo, mas é tudo em vão. Sequer têm
capacidade para compreender nossa linha de raciocínio, como diz o vulgo: “é
jogar pérolas aos porcos”.
A
solidão agora é mais atrevida! À medida que o tempo passa ela se avoluma mais e
mais com a ânsia de te engolir, pois estás só, completamente ou quase só, pois
a tua faixa etária tem poucos remanescentes e quantos com a tua capacidade
intelectual? Portanto menos pessoas falam a tua língua, a comunicação fica
difícil, Para ti a vida é um déjà vu, mas eles estão sempre descobrindo o ovo
de Colombo... As pessoas te olham como um ET e tu não podes fazer nada. Estás vivo, lúcido, és a história
viva, portador de uma bagagem volumosa, dessas que se fosse para pagar o peso
em ouro de tão carregada, o ouro do mundo não alcançaria a pagar, mas somos
vítimas dos outros que estão sequiosos de elogios e ansiosos de mostrar que
sabem, com a vaidade da inexperiência não querem te ouvir, pois te acham obsoleto.
Tenho pena, mas não posso, nem quero dar murro em ponta de faca, para
mostrar-lhes que poderiam ouvir-me e encurtar alguns percalços . É impossível
se insurgir contra a roda da vida, que com seu movimento constante nos faz
subir e descer a seu bel prazer, qual montanha russa e às vezes de maneira inconseqüente,
deixa aleatoriamente cair um ou outro de seus passageiros, que a partir de
então deixam de existir e consequentemente perdem a solidão.
De novo retorno à solidão, sem amigos para me
divertir, pessoas com quem interagir e exercitar a minha inteligência, partilhar
meus conhecimentos e minhas experiências, mas isso não me empobrece, pois
graças a Deus tenho os livros para mitigar a solidão. Pena que as civilizações
modernas não saibam se apoiar no conhecimento de seus anciões. É uma burrice
inestimável!
A
solidão nos atrai de mil maneiras, oportunizando-se de nossas mutações, nossas
fraquezas e nossas opiniões drásticas e divergentes.
Solidão
amiga! Solidão carrasca. Solidão solícita. Solidão reflexiva, mas sempre
solidão!!!SÓ!!!! INDIVÍDUO!
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