Homo
Antero de Quental
Nenhum de vós ao certo me conhece,
Astros do espaço, ramos do arvoredo,
Nenhum adivinhou o meu segredo,
Nenhum interpretou a minha prece...
Ninguem sabe quem sou... e mais, parece
Que ha dez mil annos já, neste degredo,
Me vê passar o mar, vê-me o rochedo
E me contempla a aurora que alvorece...
Sou um parto da Terra monstruoso;
Do humus primitivo e tenebroso
Geração casual, sem pae nem mãe...
Mixto infeliz de trevas e de brilho,
Sou talvez Satanaz;—talvez um filho
Bastardo de Jehová;—talvez ninguém!
(PORTO — IMPRENSA PORTUGUEZA MDCCCLXXX)
Nota: mantida Na
escrita original.
Antero
Tarquínio de Quental nasceu na cidade de Ponta Delgada, na Ilha de São
Miguel, Açores, em 18/04/1842. Começa seus estudos pelo francês, em 1847. Em
agosto de 1852 vem com sua mãe para Lisboa, matriculando-se no Colégio do
Pórtico. Em 1856 inscreve-se como aluno interno no Colégio de São Bento, em
Coimbra. Escreve os primeiros versos que lhe são conhecidos numa carta enviada
a seu irmão André. Em 1858, após algum tempo de estudo em Lisboa, com a ajuda
de seu tio Filipe de Quental, conclui os estudos preparatórios para o ingresso
na Universidade de Coimbra, onde se matricula no 1º ano de Direito, sendo
admitido em 02 de outubro. Em abril é condenado pelo Conselho de Decanos a oito
dias de prisão por, com outros estudantes,
ter tomado parte num ato praxístico. Manifesta ali suas primeiras idéias
socialistas. Fundou em Coimbra a Sociedade do Raio, que pretendia renovar o
país pela literatura.
Em
1861, publicou seus primeiros sonetos. Quatro anos depois, publicou as Odes Modernas,
influenciadas pelo socialismo experimental de Proudhon, enaltecendo a
revolução. Nesse mesmo ano iniciou a Questão Coimbrã, em que Antero e outros
poetas foram atacados por Antônio Feliciano de Castilho, por instigarem a
revolução intelectual. Como resposta, Antero publicou os opúsculos Bom Senso e
Bom Gosto, carta ao Exmo. Sr. Antônio Feliciano de Castilho, e A Dignidade das
Letras e as Literaturas Oficiais.
Ainda
em 1866 foi viver em Lisboa, onde experimentou a vida de operário, trabalhando
como tipógrafo, profissão que exerceu também em Paris, entre janeiro e
fevereiro de 1867.
Em
1868 regressou a Lisboa, onde formou o Cenáculo, de que fizeram parte, entre
outros, Eça de Queirós, Abílio de Guerra Junqueiro e Ramalho Ortigão. Foi um
dos fundadores do Partido Socialista Português. Em 1869, fundou o jornal A
República, com Oliveira Martins, e em 1872, juntamente com José Fontana, passou
a editar a revista O Pensamento Social.
Em
1873 herdou uma quantia considerável de dinheiro, o que lhe permitiu viver dos
rendimentos dessa fortuna. Em 1874, com tuberculose, descansou por um ano, mas
em 1875, fez a reedição das Odes Modernas.
Em
1879 mudou-se para o Porto, e em 1886 publicou aquela que é considerada pelos
críticos como sua melhor obra poética, Sonetos Completos, com características
autobiográficas e simbolistas.
Em
1880, adotou as duas filhas do seu amigo, Germano Meireles, que falecera em
1877. Em Setembro de 1881 foi, por razões de saúde, e a conselho do seu médico,
viver em Vila do Conde, onde fixou residência até Maio de 1891, com pequenos
intervalos nos Açores e em Lisboa. O período em Vila do Conde foi considerado
pelo poeta o melhor período da sua vida: "Aqui as praias são amplas e
belas, e por elas me passeio ou me estendo ao sol com a voluptuosidade que só
conhecem os poetas e os lagartos adoradores da luz."
Em
1886 foram publicados os Sonetos Completos, coligidos e prefaciados por
Oliveira Martins. Entre março e outubro de 1887, permaneceu nos Açores,
voltando depois a Vila do Conde. Devido à sua estadia em Vila do Conde, foi
criada nesta cidade, em 1995, o "Centro de Estudos Anterianos".
Em
1890, devido à reação nacional contra o ultimato inglês, de 11 de janeiro,
aceitou presidir à Liga Patriótica do Norte, mas a existência da Liga foi
efêmera. Quando regressou a Lisboa, em maio de 1891, instalou-se em casa da
irmã, Ana de Quental. Portador de Distúrbio Bipolar, nesse momento o seu estado
de depressão era permanente. Após um mês, em junho de 1891, regressou a Ponta
Delgada, suicidando-se no dia 11 de setembro de 1891, com dois tiros na boca,
disparados num banco de jardim de um convento, no Campo de São Francisco
Xavier.
Os
seus restos mortais encontram-se sepultados no Cemitério de São Joaquim, em
Ponta Delgada.
Obras
Sonetos de Antero, 1861
Beatrice e Fiat Lux, 1863
Odes Modernas, 1865
(na origem da polemica Questão Coimbrã). Reeditadas em 1875.
Bom Senso e Bom Gosto, 1865 (opúsculos)
A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais, 1865
(na origem da polemica Questão Coimbrã)
Defesa da Carta Encíclica de Sua Santidade Pio IX, 1865
Portugal perante a Revolução de Espanha, 1868
Primaveras Românticas, 1872
Considerações sobre a Filosofia da História Literária Portuguesa, 1872
A Poesia na Atualidade, 1881
Sonetos Completos, 1886
A Filosofia da Natureza dos Naturistas, 1886
Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX, 1890
Raios de extinta luz, 1892
A Bíblia da Humanidade Leituras Populares Liga Patriótica do Norte
Sonetos de Antero, 1861
Beatrice e Fiat Lux, 1863
Odes Modernas, 1865
(na origem da polemica Questão Coimbrã). Reeditadas em 1875.
Bom Senso e Bom Gosto, 1865 (opúsculos)
A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais, 1865
(na origem da polemica Questão Coimbrã)
Defesa da Carta Encíclica de Sua Santidade Pio IX, 1865
Portugal perante a Revolução de Espanha, 1868
Primaveras Românticas, 1872
Considerações sobre a Filosofia da História Literária Portuguesa, 1872
A Poesia na Atualidade, 1881
Sonetos Completos, 1886
A Filosofia da Natureza dos Naturistas, 1886
Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX, 1890
Raios de extinta luz, 1892
A Bíblia da Humanidade Leituras Populares Liga Patriótica do Norte
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