Get me outta here!

terça-feira, 30 de setembro de 2014

POESIA MARGINAL

Geração mimeógrafo

geração mimeógrafo (ou movimento Alissara) foi um movimento, ou fenômeno sociocultural  brasileiro que ocorreu imediatamente após a Tropicália, durante a década de 1970, em função da censura imposta pela ditadura militar , que levou intelectuais, professores  universitários,  poetas e artistas em geral, em todo o país, a buscarem meios alternativos de difusão cultural, notadamente o mimeógrafo, tecnologia mais acessível na época. Da tecnologia mais usada vem o seu nome.

Sua produção literária não foi aceita por grandes editoras, pelo menos até 1975, quando a editora Brasiliense publicou o livro "26 Poetas Hoje". Por estar à margem do circuito editorial estabelecido, sua poesia foi denominada poesia marginal. A produção artística desta geração igualmente não circulava em tradicionais galerias. A geração mimeógrafo também se expressou através da música, do cinema e da dramaturgia, sendo a sua produção poética a mais lembrada, possivelmente por ser aquela produção mais adequada às restrições de suporte impostas pela página mimeografada. As outras artes podiam ser divulgadas, porém não poderíamos ouvir uma canção ou ver um filme em um pequeno jornal ou revista mimeografados, ou fotocopiados .


Poesia marginal


No Brasil, poesia marginal é a designação dada à  poesia  produzida pela geração mimeógrafo, incluindo aí poetas absolutamente desconhecidos que produziram suas obras fora do eixo Rio-São Paulo, embora ao redor do mundo se use o termo para referir-se à tendências que funcionam independen -temente  de uma poesía "oficial", canonicamente aceita.
O gênero de poesia que foi denominado de "marginal" no Brasil se tornou conhecido por este nome porque seus poetas abandonaram os meios tradicionais de circulação das obras, através de (editoras e livrarias), e buscaram meios alternativos, realizando cópias mimeografadas de seus trabalhos, comercializados a baixo custo, vendidos de mão em mão, nas ruas, em praças e nas  universidades. Através dela, os poetas da geração mimeografada queriam se expressar livremente em pleno regime da ditadura militar, bem como revelar novas vozes poéticas.
Esta tradição marginal se estendeu pelos anos de 1980, tendo utilizado também o recurso da fotocópia e a produção de fanzines.
Possivelmente, possa-se considerar uma continuidade desta tendência na poesia que se encontra apenas na Internet, sendo produzida por poetas que não usam outro meio de divulgação, à parte de um mercado literário propriamente dito, ou da indústria cultural, por postura ou exclusão, estando à margem não por motivos políticos, como a poesia marginal dos anos de 1970, mas, principalmente, econômicos.
Nos EUA, o termo "poesia marginal" é usado para designar a poesia feita pelos poetas chamados de pós-beats.

 

Influências e características

Influenciada pela primeira fase do Modernismo brasileiro, pelo  Tropicalismo e por movimentos de contracultura, tais como o rock, o movimento hippie, histórias em quadrinhos e o cinema, a poesia marginal é tendente à coloquialidade, à espontaneidade, à experimentação rítmica e musical, ao humor, à paródia e à representação do cotidiano urbano . É uma exceção a algumas destas tendências o poeta Roberto Piva, mais tendente ao Surrealismo e próximo à poesia da Geração Beat, demonstrando grande erudição em seus poemas, tal qual o faz Geraldo Carneiro, que, no entanto, utiliza frequentemente recursos semelhantes aos da poesia concreta.
A poesia marginal sempre foi do povo do gueto, a dos participantes da antologia 26 Poetas Hoje, apresenta também, no geral, tendência à oposição ao concretismo, pelo menos à sua forma mais usual, sendo a exploração da subjetividade a principal característica a opô-los àquele movimento

Paulo Leminski, Sérgio Sampaio, Torquato Neto, Tom Zé, Waly Salomão e Chacal: representantes da “cultura marginal” *
Trabalho de Hélio Oiticica que define em poucas palavras o movimento conhecido como poesia marginal

A frase de Hélio Oiticica — artista performático, pintor e escultor —, define bem o período cultural conhecido como Movimento Marginal, que influenciaria a produção cultural no Brasil nos anos setenta. A Geração Mimeógrafo, ou Poesia Marginal, contou com importantes nomes que divulgaram a nova concepção artística na literatura brasileira (inovação encontrada também no Concretismo), fruto das primeiras rupturas literárias apresentadas pelos escritores modernistas da segunda década do século XX.
Na literatura e na poesia, a marginália foi representada por nomes como Paulo Leminski, José Agripino de Paula, Waly Salomão, Francisco Alvim, Torquato Neto e Chacal. No campo musical, já que a marginália foi um movimento que influenciou as diversas artes, os principais nomes desse período foram Sérgio Sampaio, Tom Zé, Jorge Mautner, Jards Macalé e Luiz Melodia, que posteriormente foram rotulados pela imprensa como “compositores malditos” da MPB, epíteto ingrato e nada simpático para aqueles que não encontravam espaço nas grandes gravadoras de discos da época.
O inconformismo com os moldes literários impostos pela academia e com a chamada “cultura oficial” brasileira, responsável por deixar à margem toda produção cultural que estava fora dos padrões, foi a força motriz para esse grupo de artistas criativos que subverteram a mesmice ao propor uma constante inovação poética. A Poesia Marginal não ganhou um capítulo só seu nos livros didáticos de  Literatura Brasileira, mesmo porque nunca foi considerada um movimento literário, e sim um movimento de poesia, mas ainda assim deixou um legado para diversos poetas e escritores. Selecionamos três “poemas marginais” para você ler com os olhos e mergulhar em uma interessante experiência sensorial. Boa leitura!


JOGOS FLORAIS
Cacaso

Minha terra tem palmeiras
onde canta o tico-tico.
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.
Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre:
a água já não vira vinho,
vira direto vinagre.
Minha terra tem Palmares
memória cala-te já.
Peço licença poética
Belém capital Pará.
Bem, meus prezados senhores
dado o avançado da hora
errata e efeitos do vinho
o poeta sai de fininho.


(será mesmo com dois esses
que se escreve paçarinho?)

Amor bastante
Paulo Leminski

quando eu vi você
tive uma ideia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante


um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto
RÁPIDO E RASTEIRO
Chacal


vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.
aí eu paro, tiro o sapato
e danço o resto da vida
RECEITA

Nicolas Behr

Ingredientes:
2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos beatles

Modo de preparar
dissolva os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração
leve a mistura ao fogo
adicionando dois conflitos de gerações
às esperanças perdidas

corte tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos beatles
o mesmo processo usado com os sonhos
eróticos mas desta vez deixe ferver um
pouco mais e mexa até dissolver
parte do sangue pode ser substituído
por suco de groselha
mas os resultados não serão os mesmos
sirva o poema simples ou com ilusões
SALA SUNYATA
Waly Salomão

Ó, tabula rasa.
Nada vezes nada, noves fora nada.
Sol nulo dos dias vãos. Lua nula das noites vãs.

Eis que atingi o ponto Nadir.
Se todas as coisas nos reduzem a
                                               ZERO
é daí do
                                               ZERO
                                               que temos que partir. 
SONETO

Ana Cristina César
Pergunto aqui se sou louca

Quem quer saberá dizer
Pergunto mais, se sou sã
E ainda mais, se sou eu

Que uso o viés pra amar

E finjo fingir que finjo
Adorar o fingimento
Fingindo que sou fingida

Pergunto aqui meus senhores

quem é a loura donzela
que se chama Ana Cristina
E que se diz ser alguém
É um fenômeno mor
Ou é um lapso sutil?

0 comentários:

Postar um comentário