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quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

ADELAIDE ABREU-DOS-SANTOS - O MEU PRESENTE DE GREGO

O MEU PRESENTE DE GREGO

ADELAIDE ABREU-DOS-SANTOS

                                               

   Minha vida sempre foi alegre e cheia de inesperados. Afinal nasci numa ilha do Oceano Atlântico, lindíssima!
      Uma família alegre, fui a última, os três primeiros foram os meus irmãos e quando nasci, a minha mãe decepcionada, perguntou ao meu tio João, que foi quem fez os partos dela, ele era irmão do meu pai, perguntou-lhe decepcionada: - Outro menino!? E meu tio, segundo o que minha mãe me contou, disse-lhe: - Cala-te que não sabes o que falas.
     Foi uma felicidade só com a chegada da menina, que como vocês já imaginaram era, eu! Minha mãe ficou radiante, enfim uma menina!
     Vocês devem imaginar como foi ser filha única e a mais nova. Laços, fitas, meias, sapatos de verniz, laçarotes nos cabelos, enfim uma boneca humana... e ela aproveitou bastante, graças a Deus o meu irmão que nasceu antes de mim foi quem sofreu, pois eu detestava experimentar roupa e a minha mãe adorava costurar e sempre fazia, vestidos com laços etc. etc., então o manequim era o meu irmão e eu trepava em árvores, jogava futebol, brincava de polícia e ladrão e corria para cá e para lá e só tinha que fazer a última prova, Ufaaaaa!!!
    Isto foi só para vocês terem um perfil, pois vou falar mesmo é do meu Presente de Grego.
    O tempo foi passando, muda daqui, muda dali e vim parar em Coqueiral, para onde trouxe a minha filha mais velha e onde nasceram as outras três.
    Desciam, brincavam, se escondiam, fugiam e foram crescendo. Um dia olhei a minha terceira filha que estava com dezessete anos e disse-lhe, - Você está gravida! Ela jurou que não, confessou que até já fizera exames e não tinha dado em nada. Mantive a minha opinião e levei-a ao atendimento médico da Unidade de Coqueiral, falei com a médica e a médica ficou-me olhando, tanto argumentei, apesar do exame de sangue ter dado errado, que ela resolveu prestar atenção no que eu dizia e sugeriu uma endovaginal.
    Adivinhem lá estava o meu Presente de Grego com onze semanas e cinco dias. Seria o primeiro filho de uma filha, portanto estava-me transformando em avó. Foi um choque, mas não uma decepção, não permiti o aborto e prosseguimos com os cuidados necessários, para mãe e filha. No dia 23 de abril, levei-a para a Promatre de Vitória, deixei-a lá por volta das onze e meia(23h30’), me dispensaram e voltei para casa. Às seis horas da manhã despertou-me o telefone, nesta época não existia celular ainda.
   A pessoa do outro lado da linha, me perguntou se eu era a mãe de uma lourinha, confirmei e me disseram, que eu fosse imediatamente para a Promatre, pois o médico queria falar comigo. Lá fui eu.
Chegando lá informaram-me que ela passou a noite correndo pelos corredores, com o soro e seu suporte, pois não queria ser tocada pelo médico. Imagino a comédia e o estresse do médico.
    Fui conversar com o médico e ele me solicitou, que ficasse com ela, assim o fiz, fiquei acalmando a minha filha e mostrando-lhe a importância de zelar pelo bebê. Lá pelas tantas chega um médico rabugento e manda que me retire da enfermaria, assim o fiz,
    Não fiquei meia hora lá fora e me disseram, que o médico estava me chamando, pensei que seria o que me atendeu logo no início, qual nada era o médico resmungão, exigindo que eu voltasse para a cabeceira da minha filha, pois percebeu que não iria conseguir nada com ela. Que eu a acalmasse para poder ser feito o parto.
     Fiquei com ela conversei e fomos evoluindo, mas fui observando que o médico não vinha e os académicos passavam e nem a olhavam, comecei a me preocupar com o bebê, pois já passava da hora do almoço, ela já estava lá há muito tempo, então falei para os acadêmicos, que íris tomar as minhas providências, pois estava preocupada com a minha filha e com o bebê.
    Fui lá p’ra fora, mas na verdade ia falar com a minha cunhada, pois o Diretor era vizinho dela, só que pensaram que ia chamar a imprensa, chamaram-me, pois iam proceder ao parto e gostariam que eu estivesse junto para acalmá-la. Quando cheguei à Sala de Parto, meu Presente de Grego estava acabando de estrear na vida.
    Depois disso, foi pura babação, a minha neta chegou no dia 24 de abril de 2004. Fiquei radiante e enamorada por aquela coisinha.
     Minha filha resolveu dar-lhe o nome da minha mãe, pois adorava a avó, assim foi que ela recebeu o nome de Joana.
     Claro que vocês devem imaginar a maturidade da minha filha, amamentava e sempre que podia escapar dava uma fugidinha, quando a Joana fez uma semana a mãe a colocou do meu lado na minha cama, foi assim que virei vó-mãe, mas sem nunca assumir, pois tinha consciência que a mãe era a minha filha e não eu.
     Joana foi crescendo e aonde eu ia ela estava, fiz tudo o que pude para que nunca lhe faltasse atenção e carinho. Levava-a a todos os lugares onde eu fosse, desde que fosse um ambiente que não a prejudicasse.
Nessa época já dava aula numa escola e havia várias atividades como: canto; GR; e outras atividades, Joana era a mascote, já que a escola era de Ensino Fundamental II, mas a Diretora sempre me apoiou, não só a mim como à equipe de uma maneira em geral, foi a melhor e mais humana Diretora que conheci. A prioridade dela eram os alunos e sua evolução e ela primava por ter ensino de excelência.
     A Joana era privilegiada, já que envidava todos os esforços, para prodigalizar-lhe uma amostra da minha infância, que foi sensacional.
    Quando estrou na Escola São Judas Tadeu em Santa Mônica, aprendeu a ler rapidamente e foi a oradora de sua turma com orgulho da família inteira de ver aquela bonequinha linda lendo no palco para o público de pais. A Escola São Judas parou de lecionar e então trouxe-a para a frente de casa, para a Escola Cecília Meireles, neste ano já inclui a irmã, que é dois anos mais nova e as duas estudavam juntas, cada uma em sua sala de acordo com a faixa etária e a Joana continuou a se desenvolver. Ao concluir o 5º ano a matriculei na Escola Luterana do IBES, meus sobrinhos haviam estudado lá e eu sabia que era uma escola de excelência.
     Estudou do 6º ao 9º ano, sempre elogiada pelos professores. Sempre foi o meu orgulho, ia às reuniões e só ouvia elogios às atitudes dela, bem-comportada, aplicada, inteligente, participativa, tudo que os responsáveis gostam de ouvir.
      Com tanto orgulho não medi esforços e matriculei-a no UP, pois acreditava plenamente nela, continuava excelente aluna e terminou o 3º ano com média 98, é ou não é para se ter orgulho e investir sem medo.
ela MIRANDO UM FIORDE NA NORUEGA
      Neste meio tempo fui visitar a minha segunda filha que vive com o marido na Noruega, providenciei passaporte e passagens e levei-a comigo, fomos à França, Holanda e por fim Noruega. Quando ela terminou o Ensino Médio paguei a viagem dos sonhos para Porto Seguro com os colegas, recentemente comentou que estava fazendo um ano da melhor viagem da vida dela.
       Voltando aos estudos disse-me que seu sonho era estudar Engenharia Aeroespacial, conversei com ela explicando que não teria como bancar, mesmo porque teria que ser no exterior. Conversei com ela e sugeri que tentasse Engenharia Mecânica que seria uma boa base, para posteriormente fazer um pós-graduação para a área dos seus sonhos.
    Relutou, mas um belo dia após pesquisas realizadas por ela, disse-me que estava entusiasmada e ia fazer vestibular para Engenharia Mecânica, fez o vestibular e passou. Fez o 1º período, foi razoavelmente bem, com apenas uma matéria de recuperação no final do período. Claro que como sempre, paguei todas as parcelas da faculdade e foi depois de todo esse período, que o encanto se desfez e o Presente de Grego se materializou.
     Passei a ser uma bruxa, uma megera para a minha predileta e o encanto se quebrou, até ameaças recebi e ela e o namorado chamaram a polícia, dois policiais muito cordatos e educados, conversei com eles o Sargento Lucas e o Almeida(não lembro a patenete), uma dupla incrivelmente educada e muito bem-preparada.
   O meu encanto se quebrou e todo o meu investimento de amor se perdeu. Estou atônita, pois nunca esperei nada semelhante, mesmo percebendo que ela é egoísta, nunca esperei algo tão atroz, meu mundo ruiu, não culpo ninguém só a imaginação alienada dela, deve estar deslumbrada, achando que os outros têm famílias melhores do que as dela, pois é disso que ela se queixa. Desejo que você seja feliz.
     Você foi apenas um mito que passou na minha vida, não me arrependo de ter me dedicado a você, só lamento não ter me preparado para esse desfecho.
    A ex-avó da Joana desiludida, mas com mais experiência de vida e decepção. A verdade é que poderia ter sido pior, tenho oito netos, apenas perdi uma.

EX-AVÓ E EX-NETA NA NORUEGA