Get me outta here!

sábado, 16 de novembro de 2019

ANÔNIMO - A CARROÇA


A CARROÇA
ANÔNIMO
CONTO HINDU
Certa manhã, meu pai, muito sábio, convidou-me para dar um passeio no bosque e eu aceitei com prazer.
Após algum tempo, ele se deteve numa clareira e, depois de um pequeno silêncio, me perguntou:
– Além do canto dos pássaros, você está ouvindo mais alguma coisa?
Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:
– Estou ouvindo um barulho de carroça.
– Isso mesmo – disse meu pai – e é uma carroça vazia!
Perguntei a ele:
– Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?
– Ora – respondeu meu pai – é muito fácil saber que uma carroça está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz.
Tornei-me adulto e até hoje, quando vejo uma pessoa falando demais, gritando (no sentido de intimidar), tratando o próximo com grosseria inoportuna, prepotente, interrompendo a conversa de todo mundo e querendo demonstrar ser o dono da razão e da verdade absoluta, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai dizendo:
– Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz!Image result for A CARROÇA                                                                  FIN

ANÔNIMO - OÁSIS

OÁSIS
Anônimo
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Conta uma popular lenda do Oriente que um jovem chegou à beira de um oásis junto a um povoado e, aproximando-se de um velho, perguntou-lhe:
– Que tipo de pessoa vive neste lugar?
– Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem? – perguntou por sua vez o ancião.
     – Oh, um grupo de egoístas e malvados – replicou o rapaz – estou satisfeito de haver saído de lá.
– A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui –replicou o velho.
No mesmo dia, um outro jovem se acercou do oásis para beber água e vendo o ancião perguntou-lhe:
– Que tipo de pessoa vive por aqui?
       O velho respondeu com a mesma pergunta: – Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?
       O rapaz respondeu: – Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste por ter de deixá-las.
– O mesmo encontrará por aqui – respondeu o ancião.
Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou ao velho:
– Como é possível dar respostas tão diferente à mesma pergunta?
Ao que o velho respondeu:
– Cada um carrega no seu coração o  ambiente em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou, não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também os encontrará aqui, porque, na verdade, a nossa atitude mental é a única coisa na nossa vida sobre a qual podemos manter controle absoluto.
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domingo, 10 de novembro de 2019

ANÓNIMO - A CHUVA SAGRADA


A CHUVA SAGRADA
CONTO HINDU
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OS grandes mestres espirituais indianos também usavam do humor para passar seus ensinamentos. Eis um exemplo: Na cidade de Bhopal existia um ashram muito famoso. Num dia chuvoso, o mestre de tal comunidade espiritual avistou pela janela um dos seus alunos correndo para escapar da chuva e gritou:
- Ingrato! Por que você corre para escapar da chuva!? Não sabe que foi Deus que mandou essa benção para seus filhos? A água do céu é sagrada, aproveite-a!
O aluno envergonhado, parou de correr e, encharcado, chegou à sua casa. Não deu outra, um resfriado fortíssimo abateu o discípulo do mestre.
Passados alguns dias, o aluno, já recuperado, estava na janela do seu quarto. Uma chuva forte caía do céu quando, de repente, avistou o mestre correndo para escapar da chuva. Ele não agüentou e gritou:
- Mestre, por que corre? Não sabe que a água do céu é sagrada?
O mestre localizou a voz, reconheceu o aluno e o fuzilou com os olhos, dizendo:
- Seu insolente, você não percebe que estou correndo exatamente para não profanar esta água sagrada com os meus pés sujos?!

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fim


ESOPO - O MOLEIRO, O FILHO E O BURRO


O MOLEIRO, O FILHO E O BURRO
Fábula de esopo
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Um dia de verão, um moleiro e seu filho saíram do moinho e iam levando um burrinho à feira da aldeia vizinha, para vendê-lo. No caminho, algumas moças começaram a rir deles.
- Que bobos vocês são! Bem poderia a criança montar no burro, em vez de ir a pé num dia tão quente!
O moleiro fez o filho montar no burro e continuou andando a seu lado. Logo chegaram perto de um grupo de velhos e um deles disse, apontando o moleiro, o filho e o burro:
- Ninguém mais respeita os velhos! Reparem só! Enquanto uma criança monta no burro, seu velho pai se esfalfa a arratá-lo!
Ouvindo-o, o moleiro fez descer o filho da garupa do burro e ele próprio montou-o, continuando logo o caminho.
Chegaram junto a um grupo de mulheres e crianças. Uma das mulheres exclamou:
-Como pode um homem adulto ir montado num burro e deixar uma criança ir a pé!
O moleiro suspendeu o filho e colocou-o em cima do burro. Logo adiante, de outro grupo surgiu um homem que gritou:
- Que malvados! Como podem maltratar assim um burrinho tão pequeno?
Envergonhado, o moleiro amarrou as pernas do burro e carregou-o nas costas, ajudado pelo filho.
Os moradores da aldeia riram `s gargalhadas quando viram pai e filho carregando o burro. Riram tanto que o burrinho se assustou, começou a sacudir as pernas, as cordas que as amarravam rebentaram, e ele caiu dentro do rio.
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MORAL DA HISTÓRIA - "Quando se quer agradar a todos, acaba-se não agradando a ninguém."
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quinta-feira, 7 de novembro de 2019

IRMÃOS GRIMM - A AMOREIRA


A AMOREIRA
CONTO DOS IRMÃOS GRIMM

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Há muito tempo havia um homem rico casado com uma mulher muito
bonita e religiosa; eles se amavam muito mas não tinham filhos, e por mais que desejassem tê-los, não apareciam. À frente da casa havia uma amoreira. Em certo inverno a mulher estava debaixo da amoreira descascando uma maçã e cortou o dedo; o sangue escorreu e caiu na neve. “Ah”, disse a mulher com profundo suspiro, olhando tristonha para aquele sangue, “se eu tivesse um menino vermelho como o sangue e branco como a neve!” Mal acabara de falar sentiu-se serena como se tivesse um pressentimento. Voltou para casa.
Passou uma lua e a neve desapareceu; após duas luas a terra reverdeceu; após três luas desabrocharam as flores; após quatro luas todas as árvores do bosque se revestiram de galhos viçosos; os pássaros cantavam ressoando por todo o bosque e as flores caíam das árvores; passara a quinta lua o perfume da amoreira era tão suave que a mulher sentiu o coração palpitar de felicidade e caiu de joelhos, fora de si de alegria; depois da sexta lua as frutas iam se tornando mais grossas e ela se acalmou; na sétima lua colheu algumas amoras e comeu-as avidamente, mas se tornou triste e adoeceu; passou a oitava lua e ela chamou o marido e lhe disse chorando: “Se eu morrer, enterra-me debaixo da amoreira.” Depois voltou a ficar tranqüila e alegre até que uma outra lua, a nona, passou; então nasceu-lhe um menino, alvo como a neve e vermelho como o sangue e, quando o viu, sua alegria foi tanta que morreu.
O marido a enterrou sob a amoreira e chorou muito durante um ano; no ano seguinte chorou menos e, finalmente, parou de chorar e se casou novamente. Da segunda mulher teve uma filha. Quando a mulher olhava a filha sentia que a amava com imensa ternura; mas quando olhava o menino sentia algo a lhe aguilhoar o coração e achava que era um estorvo para todos. Pensava continuamente o que deveria fazer para que a herança passasse toda à filha. O demônio lhe inspirava os piores sentimentos; passou a odiar o rapazinho, a enxotá-lo de um canto para o outro, a esmurrá-lo e empurrá-lo, de maneira que o pobre menino vivia completamente aterrorizado e não encontrava um minuto de paz.
 Certo dia a mulher se dirigiu à despensa e a filhinha a seguiu. “Mamãe”, pediu, “dá-me uma maçã.” “Sim, minha filhinha”, disse a mulher tirando uma bela maçã de dentro do caixão, o qual tinha uma tampa muito grossa e pesada além de uma grossa e cortante fechadura de ferro. “Mamãe”, disse a menina, “não dás uma também a meu irmão?” A mulher se irritou, mas respondeu:
“Dou sim, quando ele voltar da escola”. Quando da janela o viu chegando foi como se estivesse possessa; tirou a maçã da mão da filha dizendo: “Não deves ganhá-la antes de teu irmão.” Jogou a maçã dentro do caixão e o fechou.
Quando o menino entrou ela lhe disse, com fingida doçura: “Meu filho, queres uma maçã?” e lançou-lhe um olhar arrevesado. “Oh, mamãe” disse o menino “que cara assustadora tens! Sim, dá-me a maçã.” “Vem comigo” disse ela animando-o, e levantou a tampa “tira tu mesmo a maçã.” Quando o menino se debruçou para pegar a maçã, o demônio tentou-a e paff! ela deixou cair a tampa cortando-lhe a cabeça, que rolou sobre as maçãs. Então se sentiu tomada de pavor e pensou: “Ah, como poderei me livrar dele?!” Subiu então ao seu quarto, tirou da primeira gaveta da cômoda um lenço branco, ajeitou a cabeça no devido lugar atando-lhe em seguida o lenço, depois o sentou numa cadeira perto da porta, com a maçã na mão.
Pouco depois Marleninha foi à cozinha, onde a mãe estava mexendo num caldeirão cheio de água quente. “Mamãe, meu irmão está sentado perto da porta ... todo branco, e tem uma maçã na mão; pedi-lhe que ma desse, mas ele não respondeu e eu me assustei.” “Volta lá” disse a mãe “e se não quiser te responder dá-lhe uma bofetada.” Marleninha voltou e disse: “Meu irmão, dá- me um pedaço de maçã!” Como ele continuou calado deu-lhe uma bofetada e a cabeça lhe caiu. Ela começou a chorar e correu para a mãe, dizendo: “Ah, mamãe, arranquei a cabeça de meu irmão!” E chorava sem parar. “Marleninha, que fizeste!” disse a mãe. “Acalma-te, não chores, para que ninguém o perceba; não há mais remédio! Vamos cozinhá-lo em molho escabeche.”
A mãe pegou o menino, cortou-o em pedaços, pôs numa panela e cozinhou com vinagre. Marleninha, porém, chorava sem parar e suas lágrimas caíam todas dentro da panela. Assim não precisaram salgá-lo. O pai chegou em casa, sentou-se à mesa e perguntou: “Onde está meu filho?” Então a mãe trouxe-lhe uma travessa cheia de carne em escabeche. Marleninha chorava sem se conter. O pai repetiu: “Onde está meu filho?” “Ele foi para o campo, para a casa de um parente onde deseja passar algum tempo” respondeu a mãe. “E que vai fazer lá? Saiu sem ao menos se despedir de mim!”
“Ora, tinha vontade de ir e me pediu para ficar lá algumas semanas. Será bem tratado, verás!” “Ah, isso me aborrece!” retorquiu o homem, “não está direito,devia ao menos se despedir de mim.” Assim dizendo começou a comer.
 “Marleninha, por que choras?” perguntou ele. “Teu irmão voltará logo. Oh mulher, como está gostosa esta comida! Dá-me mais um pouco.” Mais comia mais queria comer, e dizia: “Dá-me mais, não sobrará nada para vocês; parece que é só para mim.” E comia, comia, jogando os ossinhos debaixo da mesa. Marleninha foi buscar seu lenço de seda mais bonito, na última gaveta da cômoda, recolheu todos os ossos e ossinhos que estavam debaixo da mesa, amarrou-os bem no lenço e levou-os para fora, chorando lágrimas de sangue. Enterrou-os entre a relva verde, sob a amoreira, e tendo feito isso se sentiu logo aliviada e não chorou mais. A amoreira começou então a se mover, os ramos se apartavam e se reuniam de novo, como quando alguém bate palmas de alegria. Da árvore se desprendeu uma nuvem e dentro da nuvem parecia ter um fogo ardendo; do fogo saiu voando um lindo passarinho, que cantava maravilhosamente e alçou vôo rumo ao espaço; quando desapareceu a amoreira voltou ao estado de antes e o lenço com os ossos havia desaparecido. Marleninha se sentiu aliviada e feliz, como se o irmão ainda estivesse vivo. Voltou para casa muito contente, sentou-se à mesa e comeu. O pássaro voou para longe, foi pousar sobre a casa de um ourives e se pôsa cantar:
Minha mãe me matou,
meu pai me comeu,
minha irmã Marleninha
meus ossos juntou,
num lenço de seda os amarrou,
debaixo da amoreira os ocultou,
piu, piu, que lindo pássaro sou!
O ourives estava na oficina confeccionando uma corrente de ouro; ouviu o pássaro cantando sobre o telhado e achou o canto maravilhoso. Levantou-se para ver e ao sair perdeu um chinelo e uma meia, mas foi ao meio meio da rua mesmo com um chinelo e uma meia só. Estava com o avental de couro, numadas mãos tinha a corrente de ouro e na outra a pinça; o sol estavaresplandecente e iluminava toda a rua. Ele se deteve, e olhando para o pássaro disse: “Pássaro, como cantas bem! Canta-me outra vez a tua canção.” “Não,” disse o pássaro, “não canto de graça duas vezes; dá-me a corrente de ouro queeu a cantarei outra vez.” “Aqui está a corrente, agora canta outra vez!” disse o ourives. O pássaro então voou e foi buscar a corrente de ouro, apanhou-a com a patinha direita, sentou-se diante do ourives e cantou:
Minha mãe me matou,
meu pai me comeu,
minha irmã Marleninha
meus ossos juntou,
num lenço de seda os amarrou,
debaixo da amoreira os ocultou,
piu, piu, que lindo pássaro sou!
Depois o pássaro voou para a casa de um sapateiro; pousou sobre o telhado e cantou:
Minha mãe me matou,
meu pai me comeu,
minha irmã Marleninha
meus ossos juntou,
num lenço de seda os amarrou,
debaixo da amoreira os ocultou,
piu, piu, que lindo pássaro sou!
O sapateiro o ouviu e correu à porta em mangas de camisa; olhou para o telhado resguardando os olhos com a mão para que o sol não o cegasse.
 “Pássaro, como cantas bem!” E da porta chamou: “mulher, vem cá, está aqui um pássaro que canta divinamente! Vem ver.” Depois chamou a filha, os filhos, os ajudantes, o criado e a criada, e todos foram para a rua ver o passarinho, que era realmente lindo com as penas vermelhas e verdes, em volta do pescoço parecia de ouro puro e os olhinhos eram cintilantes como estrelas. “Pássaro, canta outra vez a tua canção!” pediu o sapateiro. “Não, “respondeu o pássaro,“não canto de graça duas vezes, tens que me dar alguma coisa.” “Mulher, atrásda banca, na parte mais alta, tem um lindo par de sapatos vermelhos, traz aqui” disse o sapateiro. A mulher foi buscar os sapatos. “Aqui tens, pássaro; agora canta novamente a tua canção.” O pássaro foi buscar os sapatos com a pataesquerda, depois voou para o telhado e cantou:
Minha mãe me matou,
meu pai me comeu,
minha irmã Marleninha
meus ossos juntou,
num lenço de seda os amarrou,
debaixo da amoreira os ocultou,
piu, piu, que lindo pássaro sou!
Terminado o canto foi-se embora, levando a corrente na pata direita e os sapatos na esquerda, e voou para longe, longe, sobre um moinho, e o moinho girava fazendo clipe clape, clipe clape, clipe clape. E na porta do moinho estavam sentados os ajudantes do moleiro, que batiam com o martelo na mó: tique taque, tique taque, tique taque; e o moinho girava: clipe clape, clipe clape,clipe clape. Então o pássaro pousou numa tília em frente ao moinho e cantou:
Minha mãe me matou,
E um ajudante parou de trabalhar.
meu pai me comeu,
Outros dois ajudantes pararam de trabalhar para ouvir.
minha irmã Marleninha
Outros quatro pararam de trabalhar.
meus ossos juntou,
num lenço de seda os amarrou,
Oito ainda continuavam batendo.
debaixo da amoreira
Mais outros cinco pararam.
os ocultou,
Ainda mais um, mais outro.
piu, piu, que lindo pássaro sou!
Então o último ajudante também largou o trabalho e pôde ouvir o fim do canto. “Pássaro, como cantas bem! Deixa-me ouvir-te também, canta outra vez.” “Não” disse o pássaro, “não canto de graça duas vezes; dá-me essa mó e cantarei de novo.” “Sim, se fosse só minha eu ta daria.” “Sim” disseram osoutros, “se cantar novamente a terá.” Então o pássaro desceu e os moleiros todos, pegando uma alavanca, suspenderam a mó, dizendo: oop, oop, oop, oop! O pássaro enfiou a cabeça no buraco da mó como se fosse uma coleira; depois voltou para a árvore e cantou:
Minha mãe me matou,
meu pai me comeu,
minha irmã Marleninha
meus ossos juntou,
num lenço de seda os amarrou,
debaixo da amoreira os ocultou,
piu, piu, que lindo pássaro sou!
Acabando de cantar abriu as asas, levando na pata direita a corrente de ouro, na esquerda o par de sapatos e no pescoço a mó, e foi-se embora voando para a casa do pai.
Na sala estavam o pai, a mãe e Marleninha sentados à mesa; o pai disse:
“Ah, que alegria; estou me sentindo tão feliz!” “Oh não” disse a mãe, “eu estou com medo, assim como quando se anuncia forte tempestade.” Marleninha, sentada em seu lugar, chorava, chorava. Então chegou o pássaro, e quando pousou em cima do telhado o pai disse: “Ah, que alegria! Como o sol brilha lá fora! É como se tornasse a ver um velho amigo!” “Ah não” disse a mulher, “eu sinto tanto medo, estou batendo os dentes e parece-me ter fogo nas veias.”
Assim dizendo tirou o corpete. Marleninha continuava sentada em seu lugar e chorava, segurando o avental diante dos olhos e banhando-o de lágrimas. Então o pássaro pousou sobre a amoreira e cantou:
Minha mãe me matou, e a mãe tapou os ouvidos e fechou os olhos para não ver e não ouvir, mas zumbiam-lhe os ouvidos como se fosse o fragor da tempestade e os olhos lhe ardiam como se fossem tocados pelo raio.meu pai me comeu,
“Ah mãe” disse o homem, “há aí um pássaro que canta tão bem! E o sol está tão brilhante! E o ar recende a cinamomo.” minha irmã Marleninha
Então Marleninha inclinou a cabeça nos joelhos e prorrompeu num choro violento, mas o homem disse: “Vou lá fora, quero ver esse pássaro de perto.”
 “Não vás, não!” disse a mulher, “parece-me que a casa toda está estremecendo eardendo.” O homem porém saiu. meus ossos juntou, num lenço de seda os amarrou, debaixo da amoreira os ocultou, piu, piu, que lindo pássaro sou!
Com isso o pássaro deixou cair a corrente de ouro exatamente em volta do pescoço de seu pai, servindo-lhe esta tão bem como se fora feita especialmente para ele. O homem entrou em casa e disse: “Se visses que lindo pássaro! Deu-me esta bela corrente de ouro, e é tão bonito!” Mas a mulher, transida de medo, caiu estendida no chão, deixando cair a touca da cabeça. E o pássaro cantou novamente:
Minha mãe me matou,
“Ah, se eu pudesse estar mil léguas debaixo da terra para não ouvi-lo!”
meu pai me comeu,
A mulher se debateu, e parecia morta.
minha irmã Marleninha
“Oh” disse Marleninha, “eu também quero ir lá fora; quem sabe se o pássaro dá algum presente também a mim!” E saiu.
meus ossos juntou, num lenço de seda os amarrou,
e atirou-lhe os sapatos.
debaixo da amoreira os ocultou, piu, piu, que lindo pássaro sou!
Marleninha então se sentiu alegre e feliz. Calçou os sapatos vermelhos; pulando e dançando, entrou em casa. “Estava tão triste quando saí e agora estou tão alegre! Que pássaro maravilhoso! Deu-me um par de sapatos vermelhos.” “Oh não” disse a mulher; ergueu-se de um salto e os cabelos se lhe eriçaram como labaredas de fogo. “Parece-me que vai cair o mundo, vou sair também, quem sabe não me sentirei melhor?”
Quando transpôs a soleira da porta pac! o pássaro lhe atirou na cabeça a pesada mó, que a esmigalhou. O pai e Marleninha, ouvindo isso, correram e viram se desprender do solo fogo e fumaça, e quando tudo desapareceu eis que surge o irmãozinho, estendendo as mãos para o pai e Marleninha; e muito felizes entraram os três em casa, sentaram-se à mesa e começaram a comer.
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