Rosa
ANÔNIMO
Uma
experiência Cromoterápica
Savitri e eu tínhamos um grupo de amigos, um pouco
mais velhos do que nós, muito místicos e com os quais nos reuníamos sempre para
conversar e contar nossas experiências pessoais e nossas histórias de vida.
Sushila, amiga de Savitri, retornou de uma viagem a
Mumbai (Bombay) e um dia nos convidou para nos reunirmos em sua casa para
sabermos das novidades e de uma experiência que ela tinha vivido intensamente e
que era muito interessante.
Não preciso dizer que ficamos curiosos. Primeiro
porque Mumbai é considerado o maior centro industrial e comercial do nosso país
além de ser considerada a Hollywood da Índia. Devido a todas essas coisas e
porque tudo acontece nesta cidade frenética e maravilhosa, ficamos muito
excitados aguardando o dia do encontro. Além disso, havia ainda a experiência
interior que Sushila tinha vivido e que era o grande chamariz da nossa reunião.
Para vocês compreenderem bem o nosso interesse devo informar-lhes que Sushila é
uma pessoa estudiosa e que se interessa por diversos ramos do conhecimento
filosófico como Yoga, Vedanta, Mitologia, Cromoterapia etc. Na verdade ela
chegou a ensinar a alguns de nós aulas práticas de Yoga.
No sábado combinado, passei na casa de Savitri e a
apanhei para irmos juntos. No caminho encontramos alguns amigos e conversando
fomos direto ao encontro com Sushila, diga-se de passagem, cada um mais curioso
do que o outro. A pergunta que sempre saía dos nossos lábios era: Que
experiência foi essa que Sushila teve?
Após os cumprimentos iniciais nos acomodamos nos
almofadões coloridos que ela tinha trazido de Mumbai. Sushila começou o seu
relato: Contou-nos primeiro da beleza da cidade, dos filmes que estavam
passando e que ela tinha conseguido ver, das praias maravilhosas, de sua ida
até a ilha de Gharapuri, onde fica a Gruta Elefanta, e dos diversos locais
visitados por ela.
Depois deste preâmbulo, que a todos pareceu longo
demais, ela nos disse que, através de uma amiga, tinha sabido que um grande
mestre de Vedanta, Swami Chinmayananda, tinha voltado de uma viagem ao exterior.
Ele se encontrava no seu ashram, perto do aeroporto da cidade e que seria muito
bom conhecê-lo, pois ele era considerado um dos grandes homens-santos da
atualidade. Ela se dirigiu pela manhã ao Sandipani Sadhanalaya (assim se chama
o ashram de Swamiji). Lá chegando ficou deslumbrada porque todas as paredes
internas, o quarto onde ficavam os estudantes e os salões de aula eram pintados
na cor Rosa. Ela não titubeou em afirmar que certamente um homem sábio como
Swamiji deveria ser um profundo conhecedor de Cromoterapia e por isso tinha
mandado pintar todo o seu ashram com a cor rosa. Ela começou aí a enumerar uma
série de vantagens desta cor para promover a paz e a tranqüilidade naquele
ambiente que era dedicado inteiramente ao estudo de Vedanta (O conhecimento do
Ser).
Ela participou à noitinha de uma palestra do mestre
que achou maravilhosa, nos informou que ele possui uma voz potente e vibrante e
que consegue penetrar nos nossos corações, remover as nossas dúvidas e nos
motivar no caminho do autoconhecimento, aí colocou na eletrola um disco gravado
pelo Swami Chinmayananda que se chama Bhaja Govinda para ouvirmos. Colocou a
capa do disco com o retrato de Swamiji de frente para nós, fechamos os olhos e
escutamos em silêncio. A voz dele era realmente poderosa e penetrava
profundamente no âmago do nosso ser. Foi uma experiência inesquecível que
certamente nos ajudou a dar um rumo às nossas vidas.
Despedimos-nos de Sushila e rumamos em silêncio
para nossas casas, cada um com seus próprios pensamentos, no final só restou da
turma Savitri e eu que morávamos mais longe. Seguimos em frente, e eu tomei a
iniciativa de falar e dizer que tinha gostado muito das informações e mais
ainda de ter tido a possibilidade de escutar aquele que, embora não o
conhecesse pessoalmente, sentia ser um grande mestre. Conversando chegamos à
conclusão que, se os nossos pais deixassem, seria interessante podermos pintar
a nossa casa de rosa, pois certamente essa era a cor que poderia nos ajudar a
acalmar as nossas mentes e propiciar a aprendizagem do conhecimento contido nos
Vedas.
Fomos dormir com aqueles pensamentos e no meu
íntimo um forte desejo de ir a Mumbai conhecer Swamiji e participar daquele
ambiente coberto de OM, Shanti, Prema. (Luz, Paz e Amor).
Conversando com meu pai sobre a reunião que tivemos
com Sushila e como tinha ficado impressionado com as informações recebidas, meu
pai lembrou-se de que tinha um amigo que era discípulo de Swamiji. Iria falar
com ele para tentar ver se poderia nos receber para conversarmos um pouco sobre
o mestre e sua obra.
Dias depois fomos recebidos pelo amigo do meu pai
que ficou impressionado como eu, ainda adolescente, me interessava por assuntos
filosóficos. Certamente o Mestre, de alguma forma, tinha me tocado através do
seu retrato ou através de sua apaixonante e vibrante voz, como tinha ocorrido
com ele.
Começou a falar da vida de Swami Chinmayananda,
seus estudos, seus mestres e da importância que ele tinha por ter disseminado o
conhecimento de Vedanta, de uma forma tradicional, até para pessoas estranhas à
nossa cultura, que eram estudantes ocidentais.
Na época o estudo de Vedanta era muito tradicional
e só era possível para pessoas que possuíssem um profundo conhecimento de
Sânscrito.
O amigo de meu pai nos contou então a seguinte história:
“Swamiji teve um problema cardíaco um pouco antes
de viajar para os Estados Unidos e os médicos não recomendavam que tal viagem
fosse realizada. Por esse motivo Swamiji pediu ao Swami Dayananda para
substituí-lo na viagem e ele ficaria encarregado, nesse período, de ministrar
as aulas para os estudantes do Sandipani Sadhanalaya. Assim foi feito.
Era verão, estava muito quente em Mumbai, nesta
época estava em visita ao ashram uma devota de Swamiji que morava em Uttar
Pradesch (região do Himalaia), ela tinha ficado muito preocupada com a saúde e
o bem estar dele. Numa noite quando Swamiji estava acabando de falar para os
alunos, a senhora pediu licença a todos e convidou-o para passar uns dias em
Uttar Pradesch enumerando as vantagens que seria ir repousar num lugar de
temperatura amena e sem a poluição de Mumbai. Certamente ele se recuperaria com
mais rapidez e estaria de volta para dar continuidade às aulas prontamente.
O Mestre agradeceu, mas lembrou a todos que tinha
assumido um compromisso com seus filhos, como ele chamava os seus alunos, de
continuar o curso na ausência do Swami Dayananda, que já tinha viajado para os
Estados Unidos.
A senhora então perguntou: E se seus filhos também
foram?
Swamiji não teve mais como dizer não e aceitou o
convite.
Swamiji e a devota seguiram de avião. Antes de
partir, ela acionou seus assessores que providenciaram junto à estrada de ferro
o aluguel de um vagão e a alimentação para os estudantes em todo o percurso. Ao
chegarem a Nova Deli, onde deveria haver uma espera longa para troca de trens,
foi servido na própria estação um banquete somente de comidas Sattvicas para os
alunos. Nesse ínterim, o Mestre já tinha sido acomodado e a casa transformada
em um pequeno ashram com a compra de camas, cobertores etc para o recebimento
de todos.
A chegada dos alunos foi comemorada com uma pequena
festa. Swamiji se dirigiu a todos perguntando se tinham sido bem alimentados e,
em uníssono, todos afirmaram que sim.
O grupo permaneceu, até o final do verão, quando
então voltou para Mumbai e continuou seus estudos.”
Fiquei maravilhado com a história e pude sentir o
carinho que aquele homem sentia pelo seu mestre, seus olhos brilhavam e muitas
vezes sua voz ficava embargada pela emoção. O tempo passou e não sentimos. À
saída, lembrei da cor rosa e não resisti de perguntar-lhe:
Senhor, soube que Swamiji, profundo conhecedor de
Cromoterapia (pelo menos era o que eu pensava), pintou o ashram todo com essa
cor tão auspiciosa “Rosa”. O Senhor poderia me informar o porquê?
Ele deu um breve sorriso e disse: Meu filho, o
Mestre tem um discípulo comerciante que vende tintas e, vendo que o ashram
precisava de pintura, ofereceu uma partida de latas de tinta rosa que não
tinham sido vendidas. Swamiji prontamente aceitou o presente e mandou pintar todo
o ashram de rosa.
Não pude conter a surpresa e por que não dizer, o
riso. Meu quarto continuou amarelinho como sempre foi.
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