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domingo, 26 de outubro de 2014

TADEU FRANCISCO - O JUIZ E A CORCUNDA - A FALTA DE RESPEITO COM O FEIO, O DIFERENTE

Crônica II
O juiz e a corcunda
terça-feira, 19 de outubro de 2010

A primeira testemunha entrou na sala de audiência após esperar quase uma hora. Seria decidido se Maria e João eram ou não amantes.
Assim que entrou, meio vagarosa, olhou fixamente para os homens sérios que estavam sentados. Não percebeu que suas pernas não mais se moviam; tremiam.
Ela entrou e sentou na cadeira dura e desajeitada, que a Justiça comicamente "bem" acolhe seus visitantes.
Com as mãos sobre a barriga, pois era muito gorda, fitou as costas do computador usado pela bela menina emburrada.
Sentiu-se violada, pois expôs todos os seus dados pessoais a um estranho.
Começou o martírio das perguntas.
O Juiz, com pressa, dando a entender que não suportava perder seu tempo com alguém tão inferior a ele,  disparou uma série de questões incoerentes e tendenciosas.
A mulher não entendia nada.
Ela era negra, corcunda e muito feia.
Do que abstraiu, tentou explicar que não era vizinha da Maria, mesmo morando na mesma rua. "A rua era longa, senhor Juiz".
O Julgador fingia não entender e ficava nervoso. Queria que ela falasse só o que ele queria ouvir; a todo custo.
Sua grosseria correu pelos corredores do fórum.
A mulher chorou porque falou a verdade e o ar daquela sala enchia suas palavras de mentiras.
Uma ferida ali se abriu.
A mulher idosa jamais imaginou que nos seus avançados anos um novo trauma viria lhe fazer companhia.
O juiz não teve piedade e a esfaqueou:
- Assine e saia.
Aqueles quinze minutos se estenderam como se fossem dias de tortura.
Ela só queria sair dali. Mal assinou a folha. 
Para os advogados, escrivã e Juiz, apenas mais um corriqueiro dia.
Para ela, ofensa e humilhação eterna.
Ninguém se deu conta do que fizeram com aquela senhora corcunda.
Todos riram após o ocorrido com piadas banais.
Ela saiu cabisbaixa, triste e nervosa.
O que ninguém percebeu é que, tanto mentiras, como verdades, favoreciam a Maria; que só amou demais um homem cafajeste.

Tadeu Francisco

08-06-2010

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