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domingo, 23 de julho de 2017

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - CONSPIRAÇÃO

CONSPIRAÇÃO
LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

O maior mistério de todos para quem nos estudar de longe será o ódio. Nossa reputação de povo amável talvez sobreviva até 2050. Então, como explicar o ódio destes dias?
Resultado de imagem para CONSPIRAÇÃOCoitado de quem, no futuro, tentar entender o que se passava no Brasil, hoje. A perspectiva histórica não ajudará, só complicará mais. Havia uma presidente — Vilma, Dilma, qualquer coisa assim — eleita e reeleita democraticamente por um partido de esquerda, mas criticada pelo seu próprio partido por adotar, no seu segundo mandato, uma política econômica neoliberal, que deveria agradar à oposição neoliberal, que, no entanto, tentava derrubar a presidente — em parte pela sua política econômica!
Os historiadores do futuro serão justificados se desconfiarem de uma conspiração por trás da contradição. Vilma ou Dilma teria optado por uma política econômica contrária a todos os seus princípios para que provocasse uma revolta popular e levasse a uma ditadura de esquerda, liderada pelo seu mentor político, um tal de Gugu, Lulu, Lula, por aí.
Como já saberá todo mundo no ano de 2050, políticas econômicas neoliberais só aumentam a desigualdade e levam ao desastre. Vilma ou Dilma teria encarregado seu ministro da Fazenda Joaquim (ou Manoel) Levis de causar um levante social o mais rápido possível, para apressar o desastre. Fariam parte da conspiração duas grandes personalidades nacionais, Eduardo Fuinha e Renan Baleeiro, ou coisas parecidas, com irretocáveis credenciais de esquerda, que teriam voluntariamente se sacrificado, tornando-se antipáticos e reacionários para criar na população um sentimento de nojo da política e dos políticos e também contribuir para a revolta.
Outra personalidade que disfarçaria sua candura e simpatia para revoltar a população seria o ministro do Supremo Gilmar Mentes.
Uma particularidade do Brasil que certamente intrigará os historiadores futuros será a aparente existência no país — inédita em todo o mundo — de dois sistemas de pesos e medidas. O cidadão poderia escolher um sistema como se escolhe uma água mineral, com gás ou sem gás. No caso, pesos e medidas que valiam para todo mundo, até o PSDB, ou pesos e medidas que só valiam para o PT.
Outra dificuldade para brasilianistas que virão será como diferenciar os escândalos de corrupção, que eram tantos. Por que haveria escândalos que davam manchetes e escândalos que só saíam nas páginas internas dos jornais, quando saíam? Escândalos que acabavam em cadeia ou escândalos que acabavam na gaveta de um procurador camarada?
Mas o maior mistério de todos para quem nos estudar de longe será o ódio. Nossa reputação de povo amável talvez sobreviva até 2050. Então, como explicar o ódio destes dias?
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O GLOBO - 20/09/2015 - 09h06 - GERAL: texto Luis Fernando Veríssimo, Escritor (foto) e charge capa BLOG DO NOBLAT.


terça-feira, 4 de julho de 2017

ELIZABETH ORTON JONES - UM OVO DE PÁSCOA PARA BADUSKA

UM OVO DE PÁSCOA PARA BADUSKA

ELIZABETH ORTON JONES
DE MAMINKA’SCHILDREN

ERA ainda muito cedo. O galo, grande de penas verdes, foi o primeiro a cantar: - Co-co-ri-có!
Resultado de imagem para baduskaDepois, um pardalzinho pipilou. O cavalo, na cocheira, bateu com a pata no chão. A velha vaquinha começou a comer. Um novo dia surgia! E era, justamente, véspera de Páscoa!
Marianka se levantou para dar de comer às galinhas. Vestiu-se, colocou o lenço vermelho na cabeça e, pé ante pé, desceu as escadas e foi para a cozinha. Encheu uma tigela com a mistura para aves e colocou no bolso: uma linda ameixa azul, uma pimenta verde-brilhante, uma folha de couve verde-clara, uma beterraba encarnada, um punhado de arroz branquinho e a casca de uma maçã vermelha. Depois, saiu, passou pela cocheira e foi dar de comer às aves, no lugar costumeiro.
-Pri-i-i-i-i-i! – Era assim que Marianka chamava as galinhas e, à medida que elas apareciam, jogava-lhes a mistura. - Pri-i-i-i-i-i! Venham!
Em pouco tempo, todas elas estavam em volta da menina: a galinha ruiva que punha ovos pequenos e escuros; a galinha branca que punha, também, ovos pequenos, mas claros como algodão, e a grande Carijó que punha ovos grandes e pintados. E como eram lindos seus ovos!
Naquele dia, Marianka queria que a Carijó pusesse o ovo mais bonito do mundo, porque, no dia seguinte, era domingo de Páscoa e a menina desejava fazer uma surpresa à sua irmãzinha, Baduska. Por isso, deu toda a casca da maçã vermelha para a Carijó comer.
- Có-có! Cacarejou a Carijó, engolindo-a.
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Marianka, depois, deu-lhe a linda ameixa azul. Deu-lhe a pimenta verde-brilhante e, logo depois, a folha de couve verde-clara. A Carijó, em seguida, bicou a beterraba encarnada até a última migalha. E, por fim, a menina espalhou, no chão, o arroz branquinho para que a galinha o comesse.
- Có-có! Cacarejava a Carijó, a todo o momento. Marianka esperava que a Carijó pusesse um ovo com pintas coloridas. Seria um ovo pintado de vermelho, azul, verde-brilhante, verde claro, encarnado e branco. Durante toda a manhã, a menina esperou pelo ovo. No entanto, a Carijó não pôs essa espécie de ovo. Na verdade, naquela manhã, ela não pôs ovo algum.
Marianka esperou a tarde toda. Esperou até a hora da ceia. Afinal, ela não pôde esperar mais. Apanhou os ovos escuros e os claros que as outras galinhas tinham posto e correu à cozinha a fim de entregá-los à mãe.
- “Maminka”, disse a menina, entregando-lhe seis ovinhos, aqui estão alguns ovos para a senhora.
- Muito obrigado, queridinha, disse a mãe. Vou fazer um gostoso bolo de Páscoa.
A mãe, então, amarrou o avental na cintura, quebrou os ovos dentro de uma tigela grande e começou a preparar o bolo.
- “Ma-min-ka”!
- Que quer você, agora? – perguntou a mãe.
- Sabe o que a Carijó comeu, esta manhã? – E, contando nos dedos, Marianka continuou: - Uma linda ameixa azul, uma pimenta verde-brilhante, uma folha de couve verde-clara, uma beterraba encarnada, um punhado de arroz branquinho e a casca de uma maçã vermelha. Depois de ter comido tudo isso, a senhora não acha que a Carijó podia ter posto o ovo mais bonito do mundo?
- Certamente que acho! – riu a mãe, continuando a bater os ovos.
- Ele seria o meu presente de Páscoa para Baduska, murmurou Marianka, tristemente.
- Queridinha, disse a mãe, dando-lhe uma palmadinha no rosto. Vá dormir! Talvez, amanhã, a Carijó ponha esse ovo que você tanto deseja oferecer a Baduska.
Marianka obedeceu, prontamente, à mãe.
Na manhã seguinte, o galo grande, de penas verdes, cantou: - Co-co-ro-có! Logo, Marianka se levantou para dar de comer às galinhas. Vestiu-se, colocou o lenço vermelho na cabeça, desceu as escadas e foi para a cozinha.
Encontrou a mãe, junto do fogão, com as faces coradas, terminando o bolo de Páscoa.
- “Maminka”! – gritou a menina, pulando e batendo palmas.
Marianka nunca tinha visto coisa mais bonita! Em cima do fogão, voavam seis pequenos pássaros; três claros e três escuros. Eles tinham sido feitos com as cascas dos ovos. As cabeças, as asas e os rabos eram de papel amarelo.
- Psiu! – fez a mãe. São para Baduska.
- Que bom, “Maminka”! – murmurou a menina.
Marianka estava tão feliz que encheu a tigela, com a mistura das aves, até as bordas. Estava tão contente que passou pela cocheira, dançando, só parando para dar de comer às galinhas, no lugar costumeiro.
- Pri-i-i-i! Venham! Hoje é domingo de Páscoa! – disse Marianka, muito satisfeita, enquanto jogava a mistura para as galinhas. – Pri-i-i-i!
Apareceram, logo, a galinha ruiva, a galinha branca e o galo grande, de penas verdes. E a Carijó? Onde estaria? Marianka correu ao galinheiro e abriu a porta. Lá estava a Carijó, sentada no ninho.
- Carijó! – disse a menina. Você pôs um ovo como eu queria?
- Có-có! Có-có! – cacarejou a Carijó, levantando-se do ninho.
- Oh! Oh! – exclamou a menina.
Que coisa assombrosa! No ninho da Carijó estava um lindo ovo1 Ele era pintado de vermelho, azul, verde-brilhante, verde-claro, encarnado, branco e, também, estava cheio de pequenas listras e flores delicadas, formando uma linda guirlanda. Era, realmente, o ovo mais bonito do mundo!
- Obrigada, minha Carijó, disse Marianka, abraçando-a. Posso oferecê-lo a Baduska?
- Có-có! Có-có! – cacarejou a galinha, parecendo dizer: “pois não, pois não”... 

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